
sobre o artístico
A Flip é, sobretudo, uma forma de experimentar a cidade, sendo os cincos dias das mesas literárias a manifestação mais evidente de um trabalho de enraizamento no território. Além de ações como a Programação Principal, a Flip+, as atividades das Casas Parceiras e da Praça Aberta, o núcleo artístico promove uma série de outras iniciativas que se estendem pelos outros 360 dias do ano, como debates, oficinas e vivências.
Precursora das festas literárias no Brasil, a Flip já inspirou mais de 300 iniciativas análogas pelo país. Permanece única, porém, por atuar no campo expandido da literatura, ao integrar diferentes linguagens e formas de expressão: cidade, arquitetura, design gráfico, cenografia, arte, cinema e música compõem a linguagem Flip em cada edição. Outro dado que torna nossa Festa singular: sua é cidade-sede muito mais do que pano de fundo ou mera paisagem. Paraty foi e permanece como um importante e decisivo personagem dessa história, que chega a sua 23ª edição em 2025.
Paraty é reconhecida como Patrimônio Mundial da Unesco, tanto por seu conjunto arquitetônico colonial notavelmente preservado quanto pela riqueza cultural que abriga — marcada pela presença de comunidades caiçaras, indígenas e quilombolas. Não por acaso, é nesse território que acontece a Flip: porque poucos lugares acolhem tão bem o gesto de parar para ler, ouvir, pensar.
Na cidade, a Flip opera uma transformação sutil e profunda: um urbanismo raro, não regulamentado por leis ou gabaritos, mas tecido por gestos e presenças. Ao converter o espaço funcional em espaço vivido, desvela-se uma outra cidade: vibrante, criativa, plural. A Praça da Matriz se expande, os limites se deslocam, e o efêmero se impõe como experiência que persiste.
Esse é um urbanismo que não desce pronto de uma prancheta, nem responde a uma utopia rígida. Ele se faz em teste, ano após ano, em escuta com quem pisa o chão da cidade. E assim se torna permanente não por decreto, mas porque afeta. Porque muda a maneira como a cidade é usada e sentida. Porque mostra, a cada ano, que o espaço público pode ser outro — e que essa possibilidade, mesmo temporária, muda tudo.
Paraty, para a Flip, não é cenário: é promessa. E, todos os anos, ainda que a Festa se desmonte, a promessa fica. É ela que nos atravessa e insiste: a cidade não é um fato dado, mas um gesto em aberto.