O Educativo Flip realiza diversas ações permanentes no município de Paraty e no primeiro semestre de 2024 tem trabalhado em atividades propostas em colaboração com a Secretaria de Educação de Paraty (SME). No dia 12 de abril a Escola Municipal Monsenhor Hélio Pires, na Praia Grande, recebeu a primeira etapa da formação ‘Sementeira de leitura: a mediação na prática docente’, iniciativa do Percurso Sementes para o ciclo de formações da SME junto ao corpo docente e marco do início do processo de curadoria participativa que prevê outras etapas até que seja definida a programação da Flipinha e FlipZona durante a 22a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty.
Denise Col, coordenadora pedagógica do Educativo Flip, conduziu a conversa com 120 servidores públicos, a equipe de mediação de leitura do “Sementes na Escola” e dois escritores e educadores convidados: Luiz Eduardo Anelli, paleontólogo, escritor, professor livre docente do Instituto de Geociência da Universidade de São Paulo e atual diretor da Estação Ciência da USP; e Caio Zero, artista-educador, pós-graduado na área de educação e artes visuais, que ministra aulas de arte no município do Rio de Janeiro e teve sua obra “Aqui e Aqui” em destaque na roda de conversa ‘Infâncias’, acompanhado de Isabel Malzoni na programação da Flipinha 2023. As obras recebidas na chamada aberta a editoras.es e autoras.es também foram disponibilizadas para que professoras e professores tenham a oportunidade de ler, escrever suas resenhas e levar mediações literárias para as escolas.
A formação ‘Sementeira de leitura’ é momento das pessoas expressarem suas intenções na prática docente, os movimentos no sentido amplo político e identificar autoras, autores, ilustradoras e ilustradores e os temas que estarão em destaque na Flipinha e na FlipZona deste ano. Sempre com o objetivo de reforçar o convite para nós, leitores, explorarmos juntos os livros. “Nós, que somos educadores, percebemos as mudanças no currículo escolar ao longo dos tempos, e o Educativo Flip traz à tona a temática da linguagem como fenômeno incapturável para pensar o trabalho na escola a partir das mediações”, afirma Denise Col. “Assim conseguimos lidar, ao menos, com algumas camadas no relacionamento com as pessoas e o mundo”.
Compreender os caminhos do trabalho em sala de aula e incentivar a prática leitora norteiam as perspectivas de projetos do Educativo Flip. “Estamos criando uma metodologia com o ‘Sementes’, trazendo a ideia da cartografia aliada à “cardiografia” e às possibilidades de criação nas mediações de leitura”, ressalta Belita Cermelli, Diretora de Cultura e Educação da Flip.
O conceito de cartografar pressupõe a pesquisa a respeito da obra, da autoria, da narrativa, dos desdobramentos possíveis a partir da leitura. Os estudos seguem desbravando novos pensamentos, sempre trazendo à tona o conceito de “cardiografar”, da filósofa Katiúscia Ribeiro. “Ela fala que temos que saber o que os conhecimentos têm a ver com a gente”, enfatiza Denise, pedindo que tenhamos atenção sempre ao que nos toca. “O autor Caio Zero, por exemplo, foi escolhido na curadoria participativa e vivemos um momento muito especial nesse caminho, porque nos nossos encontros do ano passado uma criança de 3 anos pareceu admirar o livro ‘Aqui e Aqui’, e em resposta à nossa interrogação se havia gostado do livro, beijou a capa, demonstrando de maneira evidente o quanto a obra é tocante”, relata.
Participante da ‘Sementeira de leitura’, a professora Mayra Fontebasso atua na Escola Municipal Cilencina Rubem de Oliveira Mello, na Barra Grande, e acompanha o Percurso Formativo Sementes desde a primeira edição, em 2021. “A leitura na sala de aula traz a possibilidade do cuidado, das pessoas se olharem, do sentimento”, pontua. Em vários momentos de debate, participantes trouxeram depoimentos da profissão, enfatizando o quanto estudantes constroem memórias afetivas dentro da escola.
Nilda Lúcia Martins é professora de matemática na Escola Parque da Mangueira e a cada aula procura conquistar a turma de maneira inventiva para lecionar a disciplina. “Precisamos criar ambientes seguros e com afeto para que estudantes se conectem conosco, pois crianças e jovens muitas vezes se afeiçoam mais a nós, professoras e professores, do que à escola”.
Para trazer múltiplos pontos de vista ao pensamento coletivo, Denise Col salienta que no trabalho nas escolas as equipes devem buscar a delicadeza do não julgamento, sem impor um modelo como certo, mas abraçando modelos diversos sobre o que valorizamos, as experiências de vida, os contextos. “No mundo ‘adultocêntrico’ a linguagem verbal é muito mais valorizada do que a linguagem imagética. Por isso, nossa tendência é setorizar os livros por faixa etária, por exemplo. Quando na realidade há inúmeras obras que extrapolam essa categorização e devem ser trabalhadas pedagogicamente com qualquer idade”, explica.
Professora da rede municipal de ensino de Paraty há 33 anos, Janete Moreira atua junto a estudantes do primeiro segmento e saiu inspirada da ‘Sementeira de leitura’, pensando em novos roteiros para dialogar. “Essa formação é muito importante por apontar novos olhares, lembrando que muitas vezes seguimos só um ritmo na sala de aula, e precisamos perceber a pluralidade de gêneros, de temas, de modos de mediar”.
Com 39 anos de serviço público, a professora Norma Monteiro gostou mesmo da experiência de ser curadora da Flipinha e da FlipZona. “Eu achei perfeita a ideia da curadoria participativa, porque podemos conhecer e interagir com as obras. Eu gostei do livro que escolhi para resenhar logo que vi a capa, e fiquei mais apaixonada quando folheei as páginas”. Após acompanhar a mediação de leitura das “Sementes”, Norma garantiu que voltaria para casa entusiasmada para imaginar novas mediações para suas turmas. “Participamos da mediação com as Sementes e vou utilizar as ferramentas e técnicas que aprendi aqui com meus alunos logo na segunda-feira. Hoje eu saio inspirada para seguir com meu trabalho”.
A primeira ‘Sementeira de Leitura’ aconteceu numa sexta-feira e é uma realização do Educativo Flip, resultado da cooperação entre a Secretaria de Educação de Paraty e a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty.
Reportagem: Débora Nobre Monteiro
Fotografia: Gabriel Tye