Mais um encontro do Percurso Formativo Sementes aconteceu nesta segunda-feira, 6, no Sesc Santa Rita, em Paraty, e teve a condução de Denise Col, com a participação de Luis Filipe Pôrto e desta mediadora-repórter. A formação propõe o debate acerca da profissionalização – estudo e reflexão sobre as obras e os leitores – e do trabalho com a mediação propriamente dita, essencial para oportunizar o encontro com a literatura e a multiplicação das práticas leitoras pela cidade.
“Sabe qual o maior inimigo da leitura?”, questiona Denise, logo no início. “O leitor quando não se concentra na obra, em suas palavras, imagens, sinais, mas no que já sabe ou pensa. Com essa postura, não explora o que vê. Não explora o encontro com a obra”. Provocando a reflexão a partir do fato de que “estamos muito conectados na ideia de leitura instrumental, preocupados porque precisamos chegar a um lugar”, Denise conduz participantes no diálogo lembrando o quanto os livros abrem possibilidades para construções de sentidos.
O depoimento de Priscila vem ao encontro da ideia proposta pelo Percurso Formativo Sementes. “Para mim, em geral, os autores não querem dizer o que eles queriam dizer. Querem dizer o que disseram. A gente não chega no livro, a gente passa pelo livro. O livro não é um fim, é um meio de chegar. Acho que a magia, o encanto de ser mediador, é conseguir se alimentar, alimentando. O que o livro disse vai te transformar porque você está lá. E depende de quem está de cada lado da mediação”.
Denise explica que, na mediação de leitura, o desafio que será lançado pode ter a ver com experiências, perspectivas, temáticas de quem está mediando, e que, por sua vez, essas devem ser focalizadas.
Mediação de Leitura e Curadoria
“É preciso cartografar o nosso trabalho”, completa. “Estamos acostumados a escolher os livros a partir da perspectiva cronológica: literatura para adultos, literatura para tal e tal faixa etária”. O essencial no trabalho de mediação de leitura é justamente ir além e estudar como culturas diferentes lidam com certos assuntos, considerando como a diversidade cultural está presente na literatura.
Para prosseguir na construção do raciocínio da aula introdutória, Denise apresenta o livro ‘Como ensinar seus pais a gostarem de livros para crianças’, de Alain Serres e
Bruno Heitz. Após a mediação da leitura coletiva, o grupo traz pontos de vista diversos e argumentos para a discussão da obra.
“O livro aborda mais os pais do que a criança. Parece que o livro vai ensinar algo para a criança, quando está colaborando no crescimento pessoal do adulto que está lendo”, ressalta Sophia Souza, estudante do Curso Normal no CEMBRA (Centro Educacional Moura Brasil).
Intenção e Construção de Sentidos
Denise pontua que essa leitura instiga o questionamento. “Penso no que posso mover junto à criança ou no que posso controlar para que ela tenha acesso?”
Esse movimento envolve cartografias dos sujeitos representados nas obras. “Cada vez que encontramos um livro, devemos nos perguntar: que sujeitos ela representa, que tipo de identidade cultural… Porque os livros sempre sugerem vozes e envolvem valores.
Para finalizar, faz o convite às pessoas para que leiam em casa e tragam apontamentos para a segunda aula. “Hoje estamos cartografando: quem sou como leitor, quais são minhas referências?”
O Percurso Formativo Sementes é realizado pelo Educativo Flip, que, neste ano, conta com a parceria institucional do Sesc, e segue até o dia 11 de novembro, das 13h às 17h, no Sesc Santa Rita.
Texto: Débora Monteiro