No mês de abril o Educativo Flip levou o paleontólogo e escritor Luiz Eduardo Anelli para conversar com estudantes e equipes da Secretaria de Educação de Paraty nas primeiras edições deste ano da Operação Flipinha e da formação “Sementeira de leitura: a mediação na prática docente”. Professor e autor de vários livros sobre dinossauros e a pré-história brasileira, Anelli compartilhou conhecimentos a respeito da Terra e da presença humana no planeta.
Diante de professoras e professores na ‘Sementeira de Leitura’, a linha do tempo contando a nossa história foi ganhando vida à medida que datas e informações especiais marcavam as cartolinas na parede. Antes de pedir atenção aos saberes, Anelli sublinhou a pertinência de levar o instrumento da linha do tempo para a sala de aula. “Façam isso com estudantes, é uma potente ferramenta de estudo”, recomendou, emendando com dados marcantes: 4,567 bilhões de aos é a idade da Terra no Sistema Solar; 65 milhões de atrás aconteceu a extinção dos dinossauros; 7 milhões de anos representam a evolução humana. “Eu selecionei alguns pontos monumentais para conversarmos e um início maravilhoso dessa história da Terra que venho contar para vocês é a própria origem do nosso planeta”, explanou.
As curiosidades a respeito do nosso planeta povoaram a interação com o público presente na formação. Descobrimos que os cientistas consideram a origem da vida o primeiro grande evento biológico, sendo a fotossíntese o segundo marco. “O que chamávamos de nuvem de poeira cósmica hoje denominamos de nuvem molecular, extremamente rarefeita. E foram as cianobactérias que inventaram a fotossíntese, energizando a superfície do planeta. Há 2,5 bilhões de anos tudo ficou congelado, no que chamamos ‘Terra Bola de Neve’. Depois veio a ‘Terra Bola de Lama’, com os oceanos fertilizados, o oxigênio circulando e o surgimento dos eucariontes. Livro é semente, vejam quantas informações acessamos na leitura”, discorreu Anelli.
Na mediação, o grupo pôde ter em mãos réplicas de fósseis e conheceram peculiaridades das 54 espécies de dinossauros que foram mapeadas no Brasil. “Vejam que maravilha essa cópia da cabeça do Tapuiassauro. Percebam que o nariz dele ficava no alto da cabeça e o olho tinha o anel esclerótico”, expôs Anelli. Aves, répteis e peixes têm as estruturadas dos anéis escleróticos, que auxiliam no processo de acomodação visual e protegem os olhos durante o voo e mergulhos n´água.
Na Escola Municipal Pequenina Calixto Anelli mostrou a mesma peça e adicionou à mediação perguntas instigando a participação dos estudantes do 8º ano. “Vocês acham que o dente do Tapuiassauro indica que ele era carnívoro ou herbívoro”?. Os meninos nas primeiras filas debateram e chegaram à conclusão: “Herbívoro!”, acertaram.
Diante da turma do 4º ano as perguntas ganharam coro. “O Staurikosaurus é o primeiro dinossauro do mundo e foi encontrado no Brasil”, repetiam as crianças. Encantadas com as informações e tantas novidades a respeito do trabalho dos cientistas. “Estudar o planeta Terra é primordial para sabermos mais sobre a nossa evolução”, incentivou Anelli.
Em todos os encontros as pessoas ganharam o pôster do “Novo Guia Completo dos Dinossauros do Brasil”, de Luiz Eduardo Anelli, ilustrado por Julio Lacerda e publicado pela Editora Peirópolis. O presente fez sucesso, mas a maior surpresa foi o coprólito. “Sabem o que é isso?”, quis saber Anelli, com uma rocha bem escura nas mãos, nada menos do que coco de dinossauro. Fascinante! O pesquisador afirmou que quando a rocha é aberta e observamos o interior no microscópio, é possível identificar 20 tipos de pólen fossilizado. “Assim conhecemos todas as árvores que existiram no lugar onde encontramos o coprólito, descobrimos restos de sementes, folhas, galhos”, exclamou Anelli.
Ossos, pegadas e coco são preciosos para o estudo científico. Bem como as marcas do xixi, responsável pela descoberta do Ornitísquio Ornitópodo em Araraquara, interior de São Paulo. “Só conhecemos duas marcas de xixi de dinossauro no mundo, aqui no Brasil e lá no Colorado, nos Estados Unidos”. Está lá no pôster, pequenininho, o xixi de um dos dinossauros brasileiros.
Luiz Eduardo Anelli
Luiz Eduardo Anelli é paleontólogo, escritor, professor livre-docente do Instituto de Geociência da USP (Universidade de São Paulo) e atual diretor da Estação Ciência da USP. É autor de diversos livros sobre a vida dos dinossauros e a pré-história brasileira, incluindo o Novo Guia Completo dos Dinossauros do Brasil, Novos dinos do Brasil, ABCDinos, Dinossauros e outros monstros e ABCDarqueolgia, pela Editora Peirópolis. Foi curador de diversas exposições temporárias como “Dinossauros na Oca e outros animais pré-históricos” e “Patagotitan, o maior do mundo”, ambas no Parque Ibirapuera, São Paulo; e curador de exposições permanentes como “Dinos do Brasil – realidade virtual” no Catavento Cultural, São Paulo, e “Dinossauros – A Era Mesozoica”, no Sabina – Escola Parque do Conhecimento, Santo André, onde montou o único esqueleto completo de Tyrannosaurus em exposição na América do Sul. Em 2018 foi vencedor do Prêmio Jabuti de literatura infantojuvenil com o livro “O Brasil dos Dinossauros”.
Reportagem: Débora Nobre Monteiro
Fotografia: Gabriel Tye