No terceiro dia de Flipinha, a mesa “Saudando as mais velhas” com Everson Bertucci, Mafuane Oliveira e Júlia Medeiros, reuniu obras que trazem um encontro especial de gerações e um presente para as avós queridas, permeadas por um bate-papo emocional sobre memória, saudade e família – não necessariamente nessa ordem. Bertucci e Mafuane são autores de “Mesma Nova História”, uma história emocionante que une elementos de suas conjunções familiares e discute o esquecimento decorrente do tempo, e Júlia Medeiros, de “A Avó Amarela”, um conto de revisitação e reverência poética à sua Avó Amarela – a avó Esmeralda.
Uma das primeiras palavras ditas na conversa, e extremamente impactante, foi “morte”, a qual foi defendida, posteriormente, por Mafuane como uma das condições especiais da relação avós-neto(a). Segundo a autora, “a morte, palavra que impactou as crianças aqui, é uma forma de ser neto. É como aproveitamos o agora, é como vivemos o afeto e o aconchego.” Everson, seu co-autor, expôs a sua visão sobre o assunto: “Eu nunca conheci meus avós, escrevo bastante sobre a velhice, [sobretudo] os avós que queria ter tido. É uma vivência pela literatura.” Ainda em Mesma Nova História, os autores expuseram às crianças as sutilezas existentes no conceito de morte, a sensibilidade com que trabalharam o tema em seu livro, além de discutirem a ausência e o esquecimento, provenientes de questões socioculturais e doenças degenerativas.
Júlio, por outro lado, enfatizou as minúcias que podemos observar nos gestos, gostos, atitudes e palavras de nossos avós. “A minha avó cozinhava lembretes”, disse, “todo mundo fala que é gostoso ser avó, mas, na verdade, essas histórias reavivam o quão gostoso é ser neto. […] Casa de vó é um lugar que pode tudo, é um lugar de exploração. Poder escrever sobre isso é uma experiência privilegiada, bem particular – vivenciei a posição de observadora e exploradora.”