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Flipinha e FlipZona promovem encontro entre Eliana Alves Cruz e Jeferson Tenório

 

Eliana Alves Cruz e Jeferson Tenório lotaram a tenda da Central Flipinha na manhã desta sexta-feira, em Paraty, na mesa ‘escritas de resistência’, com mediação das FlipZoneiras Sophia dos Santos de Castro e Gabriela Soares. Escolhidos pelos jovens da FlipZona dentro da proposta de curadoria colaborativa do Educativo Flip, os dois autores foram convidados para falar sobre uma literatura que resiste apesar das barreiras culturais impostas pelo racismo estrutural. 

 

“O livro ‘O crime do cais no Valongo’ desconstrói narrativas racistas. Eu costumo dizer que, andamos pelos lugares e não nos damos conta de onde estamos, o que ali aconteceu antes de chegarmos. Mas é preciso saber. Eu coloco uma herança arquitetônica para falar. Comparei plantações de café com os prédios e escritórios de São Paulo, por exemplo, e onde era a senzala estão espaços subalternos. A gente apenas atualiza a tecnologia”, provocou Eliana. 

 

Ambos reforçaram a importância em buscar conhecimento, saber de história, pesquisar, questionar, aprender e reaprender. “Quem é que ergue um prédio? São mãos negras, pode ter certeza. A literatura também nos ajuda a enxergar a cidade de outra forma. Não só esteticamente, mas criticamente”, disse Jeferson. 

 

Os autores contam um pouco sobre suas trajetórias. Em comum: a falta de acesso a escritores, à literatura, e ainda mais a uma narrativa que os representassem. “Indicaria todos os livros da Eliana Aves Cruz. São livros que contam uma outra história que por muito tempo não foi contada. Os efeitos das nossas origens”, disse ele.

 

Sua primeira leitura, tardia, aos 24 anos, foi Rubem Fonseca, com seu conhecido ‘Feliz ano novo’. “Nunca tinha imaginado que podiam ter palavrões em um livro. Entrei numa espécie de frenesi e comecei a procurar todo tipo de livro. Hoje, escrevo para aquele leitor que eu não fui, minha literatura busca esse leitor que nunca conseguiu ir até o final de um livro”, completou.

 

Perguntada sobre como resistir, pela literatura, Eliana disse: “Essa estranha loucura que é a literatura, ela precisa ser um prazer antes de ser uma dor. Se é muito penoso, não é pra você. Mesmo os temas mais difíceis, eles devem estar orgânicos em serviço de uma boa história. A resistência é a gente tornar fluida e reflexiva uma história em que muitas pessoas podem se conectar”.

 

Para Jeferson, o caminho é o mesmo: “O modo que eu encontrei de lidar com a dor é dar sentido estético pra ela. Para conseguir dar dimensão ao que estou sentindo. O livro novo – que ele lança no final do mês – é uma defesa do direito ao encanto. A maior resistência que a gente pode ter é ter o direito de poder imaginar. Antes, a imaginação era curta: onde eu vou morar? O que eu vou comer? Minha resistência é preservar até o fim da vida essa biblioteca interior”.

 

Texto: Juliana Gola

Fotografia: Nathã Lima

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