A escritora Simone Mota foi a autora convidada do Educativo Flip para a ‘Operação Flipinha’ em 21 de maio e protagonizou encontros com estudantes da Escola Municipal Parque da Mangueira, em Paraty. Crianças do 5º e 6º anos participaram das atividades de manhã e de tarde e tiveram a oportunidade de aprender a respeito da criação literária e das profissões envolvidas em todo o processo de publicação dos livros.
“A gente escreve uma história e pensa: e agora, o que faço com a escrita? Para transformar em livro, o editor é o primeiro leitor, o ilustrador é o segundo, e há uma equipe imensa acompanhando todo o processo criativo”, contou Simone.
Entusiasmados por saberem quais inspirações movem as narrativas de “Que cabelo é esse, Bela?”, com ilustrações de Roberta Nunes (Editora do Brasil), e “Frederico, Frederico…”, que recebeu o Prêmio Selo 10 Cátedra 2021 Unesco/PUC-RJ e tem ilustrações de Bárbara Quintino (Editora do Brasil), os estudantes trouxeram perguntas e impressões sobre os títulos e comentaram as experiências nas mediações de leitura do ‘Sementes na Escola’ – a mediadora “Semente” Clélia Maria de Oliveira trabalhou as obras.
“Frederico nasceu de uma reportagem que assisti na televisão, na qual uma senhora de 70 anos contava como ficou emocionada por ver seu neto sendo atendido por um médico negro”, explicou Simone.
Já a Bela é uma personagem que tem muito da biografia da autora, como no livro em que ela traz uma história de família e homenageia sua madrinha. “O short azul do meu avô virou protagonista”, emocionou-se comentando sobre ‘O Short Azul do Meu Avô’, ilustrado por Valentina Fraiz (Leiturinha).
Com papéis e canetas em mãos, as turmas soltaram a imaginação criando enredos de afeto, aventura e salvaguarda da cultura neste território tradicional nas primeiras páginas de novas histórias que nasceram em sala de aula.
Percurso Formativo Sementes
Na segunda ação da ‘Sementeira de leitura: a mediação na prática docente’, realizada em 20 de maio na Escola Municipal Pequenina Calixto, professoras e professores da rede pública municipal de ensino também estiveram com Simone e comentaram o trabalho com as mediações de leitura nas escolas.
“Nós devemos buscar a força coletiva pensando as individualidades diversas, e o livro é um objeto afetuoso que constrói nossas memórias. Precisamos permitir a todas as infâncias o espaço do brincar e o convite à fantasia, ao mergulho no imaginário”, refletiu Simone. “Na perspectiva afrocentrada entendemos que a população negra traz a oralidade para o centro do fazer literário. Os benefícios da leitura estão nas oportunidades de fortalecer as relações e na ideia da existência das narrativas”.
Escritora, roteirista e curadora de projetos culturais, Simone tem mais de 13 livros infantojuvenis publicados e participa de diversas antologias, inclusive fora do Brasil. Em 2021 esteve na programação do Educativo Flip, que aconteceu em formato online em razão da pandemia de Covid-19, e falou sobre “Frederico, Frederico…” dividindo a mesa ‘Leituras e brincadeiras para todas as infâncias’ com a escritora Sheila Perina, autora de “As brincadeiras africanas de Weza”, obra idealizada pelo Coletivo Luderê Afro Lúdico com ilustrações de Whitney Machado.
No ano de 2023 Simone publicou seu primeiro livro para adultos: “Receita de Diamante” (Editora Malê), biografia do Chef João Diamante. Atualmente está no desenvolvimento de uma minissérie inspirada na vida de Zica Assis, e também atua na curadoria da programação infantil da Flup desde 2022. “A gente educa na vida o tempo inteiro. Devemos questionar: qual é a história que a História não conta e como podemos atuar como cidadãs e cidadãos antirracistas? O nosso entendimento histórico negro movimenta as nossas escolhas nas mediações de leitura e no trabalho na educação, em especial com as crianças”.
Reflexões
Movendo o debate a respeito da potência do trabalho em mediação de leitura, participantes da ‘Sementeira de leitura’ leram dois textos apresentados por Denise Col, coordenadora pedagógica do Educativo Flip. A partir de trechos de livros e de documentos que expressam visões diversificadas a respeito da leitura, discutiu-se ideias sobre o pensamento pedagógico e as visões histórica e social para a função fundamental dos livros.
“Em vez da leitura instrumental escolhemos a perspectiva artística que a literatura nos pede, e a mediação nos ajuda a compreender o caráter essencial da leitura”, declarou Denise. “Na mediação atuamos para trazer do livro diversas possibilidades de sentido, movendo em quem lê os sentimentos e as subjetividades do mais íntimo. O psiquismo e a socialização do leitor mexem com o sentido do texto”.
Todas as ações mencionadas na reportagem são uma realização do Educativo Flip, resultado da cooperação entre a Secretaria de Educação de Paraty e a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty.
Texto e fotografia: Débora Nobre Monteiro