22ª Edição

Nos últimos anos, a velocidade vertiginosa com que as chamadas “questões contemporâneas” se impõem, se transformam e se fundem parece desenhar um quadro de temas incontornáveis para qualquer um de nós, em qualquer parte do mundo.

Nas onipresentes telas dos celulares, nas páginas de jornal, em podcasts e, claro, em livros, diagnósticos de uma humanidade doente apontam as dores locais para onde devemos olhar: a emergência climática não está mais “dobrando a esquina”, mas chegou aqui na tragédia do Rio Grande do Sul; as fake news que elegem presidentes e derrubam governos; a inteligência artifical que ameaça empregos e a credibilidade da informação; os modos de trabalho que são reinventados a todo momento, retrocedendo décadas ao impor cargas de trabalho irreais com uma inimaginável perda de direitos; as big techs que, como os robôs de filmes dos anos 1970, parecem querer dominar a Terra (e além); o autoritarismo e as conflagrações que atestam que a violência (a de Estado e a dos indivíduos) ainda é uma ameaça real.

É certo que tudo isso desenha um cenário distópico para o qual temos poucos e precários instrumentos, mas que também tem suscitado as mais importantes discussões tanto para pensar o Brasil como o mundo. Filósofos, jornalistas, escritores, poetas e artistas têm reinventado o modo de fazer livros e de propor debates, criando uma rede de informações que se misturam e completam no sentido dessa compreensão. Temos tido que aprender a ler em outras mídias, a escrever em outros estilos, a reinventar o jeito de registrar as transformações.

A busca inesgotável por meios de compreensão é um exercício fundamental para seguirmos num planeta Terra doente, num cenário para o qual não parecemos estar nada preparados. Mas o universo literário nunca deixa de fazer sua parte: promove conversas, inventa nossos estilos, se aprofunda em pesquisas. Só com a valorização dessa discussão, com a escuta de pensadores, escritores, filósofos, jornalistas e pesquisadores, teremos instrumentos para compreender e nos mover neste mundo, refletindo juntos sobre os caminhos que se abrem.

Curadora Literária

Ana Lima Cecilio é formada em Filosofia pela USP. Trabalhando há 20 anos no meio editorial, foi editora da Carambaia e do selo Biblioteca Azul, da Globo Livros, onde foi responsável por trazer ao Brasil importantes autores, como Elena Ferrante, que virou febre entre os brasileiros. Além de Samuel Beckett, Balzac, Aldous Huxley e Hilda Hilst – de quem editou “Fico besta quando me entendem” e “Pornô chic”. Trabalhou nos últimos anos como curadora da livraria online Dois Pontos.