
curadoria literária
Em 2024 e 2025, a curadora literária da Flip é a editora Ana Lima Cecilio. Formada em Filosofia pela USP, Ana tem uma trajetória de mais de 20 anos no meio editorial, já trabalhou em diversas áreas, como edição, clubes do livro e curadoria literária. Atuou como editora da Carambaia e do selo Biblioteca Azul, da Globo Livros, onde foi responsável por trazer ao Brasil importantes autores. Atualmente, também assina a newsletter Lábia, com indicações semanais de livros e leituras.
Para a 23ª festa, Ana partiu de um triste dado recente: o brasileiro lê cada vez menos. Nesse cenário pessimista, em que o país se distancia dos livros e a produção literária sobrevive com esforço, a festa é entendida como uma força capaz de expandir a leitura, formar novos leitores e revisitar o passado com novos olhos para ensinar outras formas de mirar o futuro.
Literatura numa hora dessas?
Ana Lima Cecilio
Ninguém precisa estar muito bem informado para entender que a hora é de enfrentamento. Enfrentamento da emergência climática, da negação da ciência, do uso descabido das redes sociais, da violência do Estado. E, durante o enfrentamento, ainda é preciso um esforço descomunal para entender nossa relação com um possível protagonismo da Inteligência Artificial, ou qual será nossa relação com ela, ou como faremos política daqui pra frente, num mundo em que os totalitarismos parecem cada vez mais, perigosamente, voltar à tona. E os desafios não param: é preciso compreender as dinâmicas das guerras em uma geopolítica que muda a cada momento, os golpes de Estado, os ataques à democracia. E, ainda: como fica o jornalismo, fragilizado pela pulverização nas diversas mídias, esvaziado nas grandes empresas de mídia. Os desafios são imensos. E, com tudo isso, qual é o lugar da Literatura?
A literatura, muito já se disse, ainda que seja a expressão genuína de uma época, não tem uma utilidade tão óbvia, que possa ser alegada. Porque não nos dá respostas claras, não aponta caminhos certos, não resolve os diversos problemas reais com que nos deparamos todos os dias. Mas a literatura, enquanto criação e linguagem, é, junto com as outras manifestações artísticas, um instrumento maravilhoso de reflexão, de expansão das nossas fronteiras, de encontro entre ideias e pessoas.