Violência na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, foi tema de livro e motivo central da conversa com a escritora e organizadora Isabel Malzoni, na Casa Flipeira. Babi Pietra costurou os diálogos com perguntas feitas por crianças e fez uso das experiências pessoais.
Falar sobre violência policial nas favelas do Rio é, ao mesmo tempo, espelhar parte da realidade vivida por crianças e jovens nas comunidades da Ilha das Cobras, da Mangueira, do Condado e outros bairros paratienses, vale destacar.
Propor um livro colaborativo descrevendo as dificuldades pode não mudar o mundo, como pontuado pela plateia, mas construí-lo auxilia na abertura de caminhos para a criação de políticas públicas efetivas, além das pequenas transformações individuais. Isabel, inclusive, relembrou que recentemente aconteceram novos embates na Maré, fazendo com que escolas fossem fechadas.
O livro intitulado ‘Eu devia estar na escola’, da editora Caixote, moveu a mesa por caminhos complexos, vividos por crianças e adolescentes em confrontos sociais com a polícia. Uma das crianças com nove anos de idade que assistia a conversa relatou a própria experiência vivida na Ilha das Cobras, quando precisou se esconder no fundo de casa para fugir das balas.
O projeto traz em suas páginas trechos desse cotidiano conflituoso do Complexo da Maré, retirados de 1.512 cartas enviadas a autoridades brasileiras. “Tivemos um trabalho em selecionar essas falas para criar uma narrativa”, disse a autora lembrando parte do processo de escolha dos escritos.
Leia abaixo alguns recortes presentes na obra.
1) “Aqui há pessoas que circulam armadas. Atiram e assustam.” 2) “Desde que eu nasci, é assim. Só se repete. Mas agora tem helicóptero que atira também.” 3) “A polícia só entra aqui armada. Também atira e assusta.” 4) “Fico pensando que tem muita coisa errada.”
No período de lançamento, em 2024, o trabalho da dupla Isabel Malzoni e Ananda Luz, em parceria com a ONG Redes da Maré, contou com a cobertura midiática de grandes veículos de comunicação nacional e internacional, como o britânico The Guardian e o nacional Folha de S.Paulo.
Texto e fotografia: Matheus Ruffino