Depois de anunciar a norte-americana Saidiya Hartman e a brasileira Cida Pedrosa, a Festa Literária Internacional de Paraty – Flip confirma a participação da argentina Camila Sosa Villada em sua 20a edição. A festa acontece de 23 a 27 de novembro, em Paraty.
Formada em comunicação social e teatro na Universidade Nacional de Córdoba, Camila tornou- se conhecida por fabular a partir do seu próprio universo de mulher trans. Iniciou sua carreira como atriz em 2009, ano em que foi reconhecida internacionalmente pelo espetáculo Carnes tolendas, retrato cênico de uma travesti, no qual entrelaça sua história de vida e o universo poético de Federico García Lorca.
“Além de ótima autora, Camila Sosa Villada é uma grande atriz, como se pode ver em filmes como Mía, que também tornam sua voz inesquecível. A presença dela vai encantar o público da Flip”, comenta Fernanda Bastos, uma das curadoras da festa, que acrescenta: “Ela articula realismo e fantasia para libertar, no coração de suas narrativas, personagens que são marginalizadas no tecido social. Ela sacode noções de família, força, amizade, corpo e amor”.
O diretor artístico da Flip Mauro Munhoz destaca a importância da presença da autora: “A arte tem o poder de gerar novos olhares e Camila nos presenteia com uma mirada rica sobre aquilo que nos faz humanos: a capacidade de sentir, sonhar e imaginar. Está no DNA da Flip promover a transformação através da literatura, e quanto mais formas e vozes tivermos, melhor essa missão será cumprida”.
Herdeira do realismo fantástico, a ficção de Camila Villada não apenas dá voz e corpo a um segmento invisibilizado da sociedade, mas surpreende com um universo de referências e sensibilidades que é tão real quanto simbólico. “Sua obra exterioriza dores, delírios, desejos e violências do universo das travestis transformando-os em símbolos exuberantes de vida e de sobrevivência. A escritora consegue polir com magia as feridas, os sacrilégios sociais, os infortúnios e tragédias e nos oferecer uma escrita que coloca no seu centro a existência coletiva visceral de corpos interditados, deixando uma marca única na literatura latino-americana contemporânea”, explica a curadora Milena Britto.
A primeira obra publicada por Camila foi o livro de poemas La novia de Sandro, em 2015, mas foi com Las malas, de 2019, traduzida para várias línguas e intitulada, no Brasil, como O parque das irmãs magníficas (Planeta), que conquistou público e crítica, recebendo o prêmio Sor Juana Inés de la Cruz da Feira Internacional del Libro de Guadalajara (FIL), em 2020.
Sobre o livro, Pedro Meira Monteiro, do coletivo curatorial da Flip, comenta: “Momento alto da literatura latino-americana contemporânea, o último livro de Camila é uma viagem pelos espaços interditados do desejo mais pleno. Meio exército de Brancaleone, meio célula guerrilheira, o grupo de travestis pelo qual se move o alterego da autora é um espaço surpreendente: duro, frágil, machucado e muitas vezes violento, mas solidamente erguido sobre uma insuspeitada e comovente ternura”.
Camila acaba de lançar um novo livro, que será publicado no Brasil em novembro, mês em que é celebrada a 20a edição da Flip. Sou uma tola por te querer (Planeta) reúne nove histórias que giram em torno de personagens ao mesmo tempo extravagantes e comuns.