Abrindo o último dia de Flip, no domingo, 13, a mesa ‘Uma voz, três tempos’ reuniu Cláudio Fragata, Kal Ribeiro e Pamela Vaz em um debate sobre escrita, oralitura e velhice na tenda da Central Flipinha.
A conversa foi mediada por Clélia de Oliveira, mediadora de leitura da ação ‘Sementes na Escola’ do Educativo Flip, e Matheus Ruffino, jornalista paratiense.
Oralitura, conceito forjado pela ensaísta, dramaturga e pesquisadora Leda Maria Martins, foi trazido à roda por Matheus, para traduzir a potência da oralidade, que é capaz de grafar histórias através do corpo em movimento.
Esse elemento está intrínseco na obra ‘Vida Caiçara: Istórias i Causos di Mestri Améliu Vaz’, de autoria do saudoso mestre Amélio Vaz, avô de Pamela. O livro foi redigido ao pé da letra pela neta, proporcionando uma conversa fidedigna com o autor paratiense.
Esse relato de vida, destaque na Curadoria Participativa do Programa Educativo Flip 2024, criou um registro da oralidade caiçara e abriu caminhos para outras pessoas contarem suas histórias à sua maneira. Maísa Canánea Vaz, filha de Amélio, esteve na plateia rememorando o pai.
Encarregada por ele de manter a tradição do pé-de-moleque que fazia com perfeição, Maísa levou o doce para o público da mesa. A receita leva melado, farinha, gengibre e um quê de superstições.
Kal Ribeiro, nascida em Juazeiro, também tem um trabalho dedicado à oralidade e às escrevivências, na comunidade de Trindade, onde vive e lecionou por 10 anos na turma do EJA, educação de jovens e adultos.
Ela conta que foi Dona Dolores, mulher que se jogou na frente do trator para defender a cachoeira, que serviu de inspiração para criar o projeto coletivo ‘Somos todos feitos de histórias’, com ilustrações de Yuara Justo Silva da Rocha e Nuna Tamaya Galli Baez. A obra reúne textos de seus alunos, em sua maioria, anciãs trindadeiras com idades entre 60 e 80 anos. O escrito da caiçara Dona Alzira, que também esteve presente no evento, foi lido por Kal.
Pessoas mais velhas também têm um lugar central em obras do autor Cláudio Fragata, que compartilhou com o público a história – repleta de coincidências com a sua própria – do livro ‘Dois corações’.
Questionado sobre velhice e morte, Fragata disse que “essas questões estão permeando meus últimos textos porque estou chegando nessa fase da vida.” E afirmou que reflete sobre as temáticas enquanto produz: “Quando a gente escreve, a gente se fragmenta”, concluiu.
Texto: Tayná Pádua
Fotografia: Gabriel Tye