A Flipinha convidou as escritoras indígenas Márcia Kambeba e Auritha Tabajara para conversar com o público no Auditório da Santa Rita na roda de conversa “ensinamentoS da terra”, com mediação da pedagoga Lorena Caravita e da educadora Mayara Ayres, que participaram do Percurso Formativo Sementes 2023.
No início da sua fala, Auritha convidou as pessoas a viajarem pelos mais de 300 povos para conhecer detalhes importantes sobre as culturas dos povos originários. “Eu sou do Ceará, do povo Tabajara. Mas quero que vocês também conheçam a dança do povo Macuxi, de Roraima”, iniciou a jornada.
Autora de “Coração na aldeia, pés no mundo” (Uk’a Editorial), Auritha conta que sua escrita nasceu do desejo da sociedade conhecer o seu povo, porque a palavra Tabajara foi vista como invenção por muito tempo: “Nós já estávamos aqui muito antes de 1500, e quando cheguei em São Paulo percebi que a palavra Tabajara era desconsiderada”. A obra em destaque na Flipinha é meio de dizer que as pessoas indígenas podem estar em todos os lugares. “O convite para a maior festa literária do país me emociona porque venho acompanhada da presença de tantas mulheres e dessa conexão ancestral com nossa aldeia e nossas vozes. Enxergo minha arte como o espaço de uma única voz: a voz da ancestralidade”.
Território-corpo
Falar sobre os saberes ancestrais é bastante emocionante para Márcia, escritora, poeta, compositora e ativista, autora de “Infância na Aldeia”(Ciranda na Escola): “Há uma necessidade urgente de comunicarmos à sociedade não-indígena sobre os povos originários. Há memória, pertencimento, vivência; há territorialidade”.
Os ensinamentos são essenciais para o pensamento decolonial e o fazer diferente da lógica capitalista. Perceber a circularidade da vida em vez de nos preocuparmos com o tempo linear e cronológico é uma questão relevante na contemporaneidade. “Meu cocar não é acessório. São plumas de aves que representam a liberdade do ser humano de ir e vir e de estar nos espaços, porque o ser humano está sempre ocupando a terra”.
Márcia afirma que a presença dos corpos-território indígenas nesses espaços é fundamental. “Existe a multiplicidade de vozes indígenas, e cada voz traz a peculiaridades de um povo. Parabenizo a Flip por trazer as multivozes da aldeia para o território da literatura”.
Na plateia e convidada a subir ao palco para celebrar com as parentes, a escritora Sony Ferseck alegra-se por sentir as relações de afeto nesses encontros. Neste ano, seu livro “Weiyamî: mulheres que fazem sol” foi finalista na categoria poesia do 65º Prêmio Jabuti. “É uma emoção enorme estar aqui e vivenciar a Flipinha, porque quando uma mulher indígena alcança esses espaços, é como se todas alcançassem. Isso é como uma grande roda de dança de Parixara, vamos só acrescentando mais pessoas. Nós mulheres indígenas também podemos estar aqui”.
Foto: Gustavo David (@photosbygu)