A mesa 14: Diamante Rubro estava marcada para começar às 15h no sábado, dia 27 de novembro, trazendo uma das principais atrações da 20ª edição da Flip: Annie Ernaux, recém-laureada com o Prêmio Nobel de Literatura. Porém, filas se formavam na porta do Auditório da Matriz e no entorno do Auditório da Praça, que transmite gratuitamente todas as mesas do programa principal, já ao final da mesa anterior, que reuniu Bernardo Carvalho e Pauline Melville para pensar os 20 anos da Flip. Do lado de fora da Livraria da Flip, onde os autores assinam livros após os debates, pessoas sentavam-se no chão para garantir o autógrafo que se seguiria à mesa. Era como se todo o público, naquela tarde, tivesse se reunido no perímetro da Igreja e da Praça.
Não era por menos. Quando Rita Palmeira, mediadora da mesa, subiu ao palco, não havia um único assento livre dentro da tenda. Antes de receber as autoras, ela pediu que, ao final da mesa, ninguém se levantasse. Era preciso evitar o fluxo de pessoas para que Annie Ernaux completasse o trajeto de pouco mais de duzentos metros para receber o carinho das muitas pessoas ansiosas por ouví-la.
O mesmo acontecera na quinta-feira, 24 de novembro, quando, a despeito da estreia da Seleção Brasileira contra a Sérvia na Copa do Mundo, uma multidão fez fila na frente do Cinema da Praça para conseguir ver de perto a escritora francesa. O cinema público de Paraty exibiria o documentário Os Anos Super-8, dirigido por ela e seu filho David Ernaux-Briot, que participariam de um bate-papo logo após a sessão.
Na mesa do programa principal, Annie Ernaux esteve junto de Verônica Stigger. A partir do papel de mediadora, Rita Palmeira fez com que as autoras olhassem a fundo para os próprios trabalhos, o que permitiu ao público que conhecesse os bastidores da produção artística. Ao comentar a recente honraria, a maior da literatura mundial, a escritora francesa foi enfática ao dizer que não deixaria que o prêmio lhe roubasse a velhice. “É importante para mim continuar a viver e a escrever. Tudo o que é pedido pelo Nobel talvez pudesse impedir que eu vivesse intensamente essa espécie de quinta estação da vida. Eu vou assumir o peso do Nobel, mas dentro de alguns limites”, disse Ernaux.
Mas se as palavras – como, é claro, a literatura – de Annie Ernaux são inspiradoras, foram sobretudo a sua simpatia e generosidade que arrebataram o público da Flip. Ela foi vista almoçando tranquilamente pelos restaurantes de Paraty, foi aplaudida pelas ruas e passou cerca de 2h30 assinando autógrafos para leitores encantados.