Os autores Alexandre Rampazo e Otávio Júnior participaram da mesa ‘Olhares que encontram histórias’ na Central Flipinha e emocionaram o público que participou das ações do Programa Educativo Flip no domingo, 13, último dia da 22° Festa Literária Internacional de Paraty.
As crianças foram convidadas a conhecer Se eu abrir esta porta agora… (Ciranda Cultural, 2023), de Alexandre Rampazo, à medida que as mediadoras “Sementes” Ana Carolina Silva e Babi Pietra abriam o livro no palco. As diversas perspectivas propostas pela obra foram trazidas para a conversa.
“O olhar que a criança tem é poético, é do ineditismo para as coisas”, declarou Rampazo. “A criança olha o mundo em perspectiva, como se tivesse o ponto de fuga no horizonte, e assim vai percebendo as possibilidades, fazendo todas as leituras, em um ciclo permanente”.
Para Alexandre, os adultos olham o mundo de forma concreta, dura e definida. Essa postura de ver tudo de cima para baixo, tentando ordenar as coisas, ficaria evidente no gesto corriqueiro de abaixar para pegar uma criança no copo e ficar em pé, colocando a criança nessa perspectiva do adulto. “O adulto traz a criança pro colo e ela pede para voltar para o chão”, ponderou. “Por isso lembro que o tempo todo estamos falando de política, de forma mais ou menos intensa, e o importante é pensarmos como atuamos politicamente com as crianças”.
Otávio Júnior enfatizou que nas favelas há crianças que convivem em contextos urbanos, bem como em contextos conectados com a natureza. “Na Tijuca, por exemplo, as crianças veem a floresta da Tijuca. Na Mangueira, veem o Maracanã iluminado de noite. Algumas veem a praia de suas casas nas favelas”, contextualizou Otávio, explicando que Da minha janela (Companhia das Letrinhas, 2019) foi pensado em como atualmente as pessoas não podem circular de uma favela para outra. “Da minha janela surge do sonho de conectar as favelas do Rio de Janeiro em uma só”.
Ao falar do livro, Otávio destacou ainda o trabalho da ilustradora Vanina Starkoff. “Profissionais que trabalham as ilustrações criam universos totalmente fantásticos e mágicos”, celebrou. “Quando seguramos um livro estamos segurando um sonho, e criei essa obra pensando no João, meu filho, que olhava pela janela e me pedia para levá-lo no castelo no alto da montanha”. O castelo da imaginação do pequeno é a Igreja da Penha, localizada no alto de uma colina em destaque na paisagem carioca.
Texto: Débora Nobre Monteiro
Fotografia: Nathã Lima