No terceiro dia de Flipinha, a roda de conversa, “Conversa à beira-mar”, na Central Flipinha, contou com Simone Mota e Andréa Oliveira, autoras que buscam apreender todo o legado que as representantes das vozes femininas negras do país deixaram. “Nós precisamos lutar para que esta literatura chegue a todos. É um direito nosso”, disse Simone Mota, autora de “Carolayne, Carolina e as histórias do diário da menina”.
Maria Firmina dos Reis, autora homenageada da 20ª FLIP, e Carolina Maria de Jesus, em outro tempo e lugar, ficaram apagadas da história e da literatura brasileira. Somente um século e meio depois, seus legados começaram a ser reconhecidos e vivenciados. Andréa Oliveira, autora de “Maria Firmina, a menina abolicionista”, afirma que “se falamos dessas autoras quase um século depois, é porque suas histórias são poderosas” e completou que “me sinto honrada de trazer a luz de Maria Firmina às crianças”.
Conversaram com o público sobre alfabetização/letramento racial, a magia da subjetividade que cada história carrega e a importância de evidenciar as vozes sufocadas pela repressão, ainda que Oliveira tenha reiterado: “A Flip homenageia Maria Firmina, mas, mesmo com o progresso, não podemos negar que estamos muito atrasados. Não podemos esquecer disso. […] Meu livro é uma recreação afetiva, um retrato amoroso de uma mulher tão importante, que teve até sua imagem apagada.”
Conforme a conversa encaminhou-se para o fim, Sinome acrescentou: “O que sofremos, não necessariamente com o cabelo (referenciando seu livro ‘Que cabelo é esse, Bela?’), é uma tentativa de apagamento. Não quero que nenhuma criança passe por isso. É utopia desejar isso? É utopia, mas, de pouquinho em pouquinho, a gente muda o mundo.” Andréa completou: “Angelas Davis disse que não basta mais não ser racista, precisamos ser antirracistas. Os livros precisam doer, esse livro aqui [‘Maria Firmina, a menina abolicionista’] doeu em mim, doeu muito, e precisa doer. Precisa doer em todo mundo, para que não normalizamos a discriminação.”