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A sexta-feira deu o que falar na 21a. Flip

Neste terceiro dia da 21ª Flip, temos muita empolgação pela frente. A programação será repleta de debates, poesia, manifestações artísticas e um toque de festividade. Confira também um resumo de como foi a nossa última quinta-feira. 

Mesa “Um quarto meio escuro”, com a escritora equatoriana Mónica Ojeda e a escritora espanhola Alana Portero. Foto: Walter Craveiro

Cobertura | Mesa 4

Um quarto meio escuro

Um dos encontros mais aguardados do segundo dia da 21ª Flip aconteceu na Mesa 4: Um quarto meio escuro, que reuniu a escritora equatoriana Mónica Ojeda com a espanhola Alana Portero. Mediadas por Stephanie Borges, as autoras iniciaram a conversa sobre um tema transversal às suas obras: o perigo a que são submetidos os corpos femininos, e a literatura que se produz a partir dessa realidade. Para Portero, o risco serve de indicativo de que o desejo pode se realizar, a tarefa, portanto, passa a ser converter, através do ofício literário, esses anseios em acontecimentos e personagens.

“O desejo”, descreveu Ojeda, “tem a ver com força, ao mesmo tempo que tem a ver com vulnerabilidade. Nós vivemos perigosamente porque não há outra forma de viver”. Nesse contexto, o papel da escrita seria o de deslocar a palavra em direção à sensibilidade. Quase que complementares entre si, as escritoras proporcionaram um encontro dialógico sobre os respectivos horizontes criativos: se Ojeda busca criar textos que repercutem nos corpos de seus leitores, Portero faz o caminho supostamente contrário, pois o corpo vem antes, operando como “uma fonte inesgotável de histórias”.

Performance de Juliana Perdigão na Flip. Foto: Sara de Santis

Cobertura | Poesia musicada

No começo da tarde, durante os intervalos dos debates, aqueles que estiveram no Auditório da Praça puderam desfrutar da apresentação musical da cantora e instrumentista mineira Juliana Perdigão. Sem a presença de uma banda, acompanhada apenas por uma guitarra, a artista apresentou canções de seu álbum Folhuda (2019). Entre as escolhas do repertório, destacam-se poesias musicadas de Angélica Freitas, Fabrício Corsaletti, Arnaldo Antunes e Paulo Leminski.

Turismo e literatura no mesmo lugar

Não é exagero afirmar que a literatura tem o poder de transportar os leitores para diversos lugares. A mesa partiu dessa premissa para discutir como os livros podem impulsionar o turismo local. O debate contou com a participação de Marcelo Freixo, presidente da Embratur, e Bernardo Barreiro, diretor de Turismo de Portugal. Durante a discussão, foram apresentados exemplos de rotas por locais que se tornaram cenários de livros, bem como de residências que pertenceram a renomados autores e foram transformadas em museus ou fundações. Freixo destacou o potencial do Rio de Janeiro para ser explorado nesse contexto.

Mesa com Marcelo Freixo, presidente da Embratur, e Bernardo Barreiro, diretor de Turismo de Portugal, na Casa de Cultura de Paraty. Foto: Sara de Santis

“As pessoas visitam o Rio de Janeiro por seus cartões-postais. No entanto, queremos que elas permaneçam por mais tempo na cidade para poderem explorar a riqueza literária que ela oferece. Os turistas frequentam o Pão de Açúcar, o Corcovado e assistem a jogos no Maracanã, mas muitas vezes deixam de explorar o centro da cidade. Se souberem que ali têm a oportunidade de proporcionar à família acesso ao que há de melhor na literatura brasileira, como autores como Lima Barreto e Machado de Assis (ambos viveram na região), poderão vivenciar uma perspectiva diferente da cidade”, declarou Marcelo Freixo.

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Cobertura | Mesa 6

As suas nebulosidades 

Já quando a chuva caía sobre o Centro Histórico de Paraty, o Auditório da Matriz foi palco da Mesa 6: As suas nebulosidades, que proporcionou o encontro das poetas Dionne Brand e Angélica Freitas. Com mediação de Jamille Pinheiro Dias, a conversa fez emergir reflexões a respeito do ofício compartilhado pelas convidadas. Brand ressaltou que a poesia é um ofício erguido a partir de uma falsa promessa: “Escrever poesia é querer escrever a coisa perfeita, então falhar. Então eu passo para a linha seguinte e tento mais uma vez dizer a coisa perfeita”. Freitas, então, lembrou da frase do dramaturgo alemão Heiner Müller, e que ela assumiu como lema: “Eu escrevo mais do que eu sei, mais do que eu conheço”.

Ao final da mesa, a poeta canadense, que em 2023 completou 70 anos, comparou as palavras a uma ligação metálica delicada, frágil, mas capaz de conectar algo até então esparso. Para ela, a poesia reorganiza a linguagem, e nesse movimento ajuda os leitores – e o próprio poeta – a não se tornarem pessoas pequenas diante dos regimes do mundo. Quando questionada se é possível fazer poesia sem provocar rupturas, Brand disse que sempre seu interesse como escritora é justamente gerar ruídos, “fazer com que o texto interrogue o leitor”, e o faça “olhar para as próprias possibilidades, e não para as suas limitações”.

Cobertura | Mesa 7

Lembranças de todas as coisas ocorridas

A última do dia, Mesa 7: Lembranças de todas as coisas ocorridas, teve o encontro entre a escritora paulistana Natália Timerman e a ensaísta e editora irlandesa Sinéad Gleeson. Ao introduzir as convidadas, a mediadora Rita Palmeira ressaltou que, embora haja evidentes diferenças entre as produções em questão, as autoras encontram-se no desejo – e na capacidade – de formalizar o que viveram no texto. Seja no ensaísmo de Gleeson ou nas ficções limítrofes de Timerman, a experiência quase sempre converge na inevitabilidade do texto. Enquanto ambas tornaram-se mães e depois escritoras, a necessidade de contar histórias faz com que usem qualquer pequeno respiro na vida prática para mergulharem nos múltiplos universos explorados por suas criações literárias.

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­Formando novos leitores (e autores)

“O livro deveria fazer parte da cesta básica, ao lado do arroz e feijão. O que seria de nós sem a possibilidade de ler para compreender e entender um pouco melhor o mundo?” Com esse questionamento, a autora Eliana Alves Cruz mergulhou no cerne do debate “Reconstruindo o Plano Nacional do Livro e Leitura”, ocorrido na Casa da Cultura. Nesse encontro, ela, juntamente com Jéferson Assumção, Itamar Vieira Junior, Sevani Matos e Lizandra Magon, refletiu sobre a importância da leitura na formação da dignidade e cidadania de um povo.

Os debatedores compartilharam suas trajetórias e enfatizaram a necessidade de fortalecer políticas públicas que promovam novos leitores e também autores. Tanto Eliana quanto Itamar puderam desenvolver suas carreiras literárias por meio de programas do Estado que incentivam a literatura. “Pensar em qualquer movimento de educação sem considerar o livro, sem incluir cultura e arte como parte desse processo, é pensar de maneira incompleta”, observou Itamar.

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Cinema na praça­

Na Flip, ninguém sofre de tédio por falta de programação. Em paralelo à agenda principal da Festa Literária, diversas outras atrações gratuitas estão acontecendo pela cidade. Próximo ao auditório principal, está localizado o Cinema da Praça. Além dos debates, o público pode assistir a  filmes clássicos durante os dias da Festa. No domingo, reserve um espaço no roteiro para Central do Brasil, de Walter Salles, e A hora da estrela, de Suzana Amaral

Coletivo de Rap de Paraty. Foto: Sara de Santis

História improvisada

O Largo da Igreja Santa Rita tornou-se palco de uma batalha de rap promovida pelo Coletivo de Rap de Paraty. O grupo conseguiu animar uma audiência bastante diversificada. Em uma série de cinco rodadas, os MCs foram desafiados a improvisar com base em temas escolhidos na hora pela plateia, abordando assuntos como educação, natureza, diversidade, revolução, literatura e ancestralidade. Ao final, crianças, jovens e adultos fizeram o papel de júri. Outros dois jurados independentes deram o veredito final, elegendo Mana Babi como a vencedora da noite.

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Esse conteúdo é uma parceria entre a Flip e a Revista Bravo!

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