Muitas são as frentes de atuação de Augusto de Campos no campo literário, mas, a começar pela produção poética do autor, podemos afirmar, com segurança, que ele é o poeta vivo mais importante de seu tempo.
Nascido em São Paulo, em 1931, Augusto de Campos empreende uma jornada de intensas reivindicações e embates culturais ao longo dos séculos 20 e 21. Um dos mais célebres e frutíferos momentos dessa trajetória está ligado ao movimento concretista, um projeto estético que mobiliza Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari. Juntos, eles defendem a relevância do experimentalismo e da dedicação à forma da poesia, que se desdobra em aspectos gráficos e fonéticos das palavras, em uma dinâmica verbicovisual. A obsessão pela comunicação e pela interatividade são expressadas em experiências com suportes variados, como nos Poemóbiles, poemas-objetos produzidos com Julio Plaza, e na produção musicada com Cid Campos em Poesia é Risco. O impacto desse movimento é profundo e ruidoso, passando pela própria negação desses pressupostos, levando à revolução da canção tropicalista, até chegar na incorporação, com naturalidade, dos preceitos concretistas na linguagem dos poetas de hoje, por meio de vídeo-poemas, performances musicais e poemas-cartazes.
Na tradução, Augusto de Campos se dedica a erigir novas trilhas, por meio da prática da transcriação, na qual exacerba o caráter inventivo da atividade de reconcepção de textos estrangeiros para o português brasileiro. Porque, para lembrar o jargão, se o tradutor não se limita à fidelidade ao autor, ele se torna o maior aliado do leitor. Obras de James Joyce, Vladimir Maiakovski, E. E. Cummings, Anna Akhmátova, Stéphane Mallarmé, Octavio Paz e muitos outros poetas de diferentes línguas, culturas e tradições são compartilhadas por Augusto com seus leitores.
Ele próprio, como leitor engajado e autor em busca de referências sólidas, é, também, um ativista pela releitura. É nesse trabalho, que se confunde com a perseguição astronômica, que Augusto reencontra o valor da poesia de Solange Sohl, que ele descobriria mais tarde ser um dos pseudônimos da autora homenageada da Flip 2023: Patrícia Rehder Galvão, a Pagu.
Em um momento como o que vivemos, de desconsideração da atividade crítica, a homenagem a Augusto de Campos também é reveladora das possibilidades de atuação para a atividade intelectual incessante e corajosa do crítico, do poeta e do estudioso-leitor apaixonado, quando todas essas personas fazem parte de si.
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