A obra de Claudia Andujar ecoa um gesto central da literatura: abrir uma entrada sensível ao lugar e ao olhar do outro, sem jamais substituí-los ou rasurá-los. Sua fotografia é uma narrativa do encontro, porque reorganiza a forma de acercar-se, deixando que um poder invisível se manifeste na existência mútua de quem observa e quem é observado.
A força narrativa em movimento na obra de
Claudia Andujar extrapola os limites da linguagem da fotografia e a insere no que chamamos de literatura expandida. A imagem produzida por sua mirada não “retrata”, nem narra o objeto como uma força estática. Ao colocar o sujeito como aquele que, além de ver o mundo ao seu redor, também devolve a mirada ao observador, Andujar permite que ele fale de si mesmo, abrindo-se a uma forma narrativa que só uma arte sem bordas pode propiciar. A ambientação que guarda o instante peculiar daquela existência, o detalhe que guarda mistérios, as camadas de sentido trazem para a arte de Claudia elementos que podem ser entendidos como parte de uma expressão que não se insere num campo organizado da tradição literária, mas que o transcende.
Para além de sua fundamental atividade jornalística – que afinal a aproximou dos Yanomami – a fotografia de Claudia Andujar pode ser compreendida como um texto no qual a imaginação, movida pelo desejo de revelar vozes e corpos invisibilizados, abre para nós, leitores deste século, narrativas que costumam ser perdidas nas dinâmicas do capitalismo selvagem e da violência sistemática contra certos corpos e certas culturas. Se por um lado seu trabalho com as imagens nos coloca diante de um mundo extraordinário e invisível, por outro lado ele nos permite conhecer a própria Claudia em sua trajetória singular, que tem seu motor na abertura curiosa e amorosa, que leva frequentemente a uma escuta sem palavras.
Buscando inspiração em Claudia Andujar, podemos dizer que, por meio da escrita e da leitura, é possível reencontrar-se com o que vem antes do fim, com as promessas e potências da coletividade que resiste,
em diálogo cerrado com o passado, abrindo um caminho que a literatura está sempre ensaiando, antes mesmo que possamos compreendê-lo.
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