A Central Flipinha recebeu as autoras Kiusam de Oliveira e Geni Núñez nesta sexta-feira, 11, para a Mesa Flipinha ‘Onde nasce a afetividade?’ e o público aplaudiu de pé a conversa mediada pela liderança indígena Nathalia Kariri Leal e por Day Silva, coordenadora da Casa Flipeira – espaço cultural do Educativo Flip em Paraty/RJ que funciona desde maio deste ano na Ilha das Cobras, realizado em colaboração com a Secretaria de Educação de Paraty.
Idealizadora do projeto “genipapos” e convidada para dividir a mesa ‘O amor político’ com a ativista social Brigitte Vasallo e a mediadora Nanni Riospara no Auditório da Matriz, Geni Núñez é autora de Descolonizando afetos: experimentações sobre outras formas de amar (Paidós/Planeta, 2023), e do livro infantil Jaxy Jaterê, o saci guarani (HarperKids/HarperCollins, 2023), que conta com ilustrações de Miguela Moura. Ambos são destaques na Curadoria Participativa do Programa Educativo Flip 2024.
“Eu fico muito contente pelo convite para participar da programação porque entendo que a nossa literatura é uma das maneiras de desmentir a caravela epistêmica”, declarou Geni, complementando que o termo “caravela epistêmica” refere-se ao gesto colonialista de trazer saberes ancestrais como grandes novidades. “Essa narrativa da descoberta do que na verdade já existia, de que descobriram o Brasil quando a verdade é que já estávamos habitando aqui”, explicou.
O saci guarani protagonista da sua obra é uma história muito presente nas comunidades indígenas. “Eu escutei essa história da minha mãe, da minha avó, mas percebi que a maior parte das crianças têm como referência o saci do Monteiro Lobato, cheio de estereótipo”, explicou Geni. “Quero que as pessoas conheçam o saci como um ser da floresta, relacionado às plantas medicinais”.
Diante da intergeracionalidade na plateia do Programa Educativo Flip, Geni relatou a admiração que sente ao ver diversos públicos lendo seus livros. “É emocionante ver, por exemplo, os bebês se relacionando com a literatura por meio das cores, das figuras, das ilustrações”, concluiu Geni.
Papo Flipeiro com Kiusam de Oliveira
Autora de Omo-oba: Histórias de princesas e príncipes (Companhia das Letrinhas, 2023), com ilustrações de Ayodê França, a escritora Kiusam de Oliveira trouxe a lei nº 10.639 para o debate na Central Flipinha e em outro encontro com o público da Casa Flipeira, mediado por Júlia Schmidt, também coordenadora do espaço cultural. “A lei antirracista é revolucionária como tudo o que os não ocidentais fazem”, defendeu Kiusam. Pois a branquitude, que construiu o racismo, deve ajudar na desconstrução dele. “Existe um processo de apropriação e de invisibilização que ameaça a nossa existência”.
As professoras que acompanharam a fala de Kiusam ficaram bastante emocionadas com os aprendizados diante da mestra. “A pessoa que trabalha com educação deve acolhe todas as diversidades”, ressaltou, elogiando o trabalho da curadoria participativa das mediadoras “Sementes” da equipe do Educativo Flip.
Os livros do acervo da Casa Flipeira e as obras que são mediadas nas escolas municipais de Paraty nas ações permanentes do ‘Sementes na escola’ foram escolhidos cuidadosamente e respeitam critérios da Curadoria Participativa do Programa Educativo Flip.
Para Kiusam, são espaços de cultura como esses que podem colaborar para a construção de outros mundos, onde as relações aconteçam com respeito para além do fiapo de amor que sustenta a humanidade dos corpos ainda subjugados no nosso tempo. “As crianças brancas estão acostumadas a ouvir afirmações positivas, quando todas as crianças devem ser respeitas desde sempre”.
Texto e fotografia: Débora Nobre Monteiro