Floresta é o mundo: o pensamento vegetal

Museu é o mundo.”

Hélio Oiticica

 

“O sertão está em toda parte.”

João Guimarães Rosa

 

O pensamento vegetal e a literatura

 

A literatura é, sem dúvida, um lugar privilegiado para se pensar a relação dos humanos com as plantas, pois desde as origens muitos textos literários colocaram os vegetais num plano de grande importância. Na dita modernidade ocidental, foram principalmente os autores românticos e simbolistas que recorreram a rosas, flores em geral, árvores, raízes e outros elementos vegetais para expressarem seus sentimentos e ideias. No entanto, Walt Whitman foi decerto um dos primeiros a dar um verdadeiro protagonismo ao mundo natural, muito semelhante ao que será realizado por outros escritores nos séculos 20 e 21. Nas Folhas da relva (Leaves of grass), as paisagens estadunidenses não comparecem como mero elemento decorativo, mas sim como forma de reflexão sobre o ser-e-estar no mundo, abrindo para diversas poéticas e ativismos do século seguinte: alto-modernistas, beatniks, o Flower Power hippie e o ecologismo, entre outros movimentos de vanguarda literária e existencial.

 

O que chamo de pensamento vegetal não tem definição simples nem definitiva, mas compreende ao menos quatro significações básicas. Primeiro, pensamento vegetal seria o que pensam as plantas. Essa é uma questão elementar da botânica e da filosofia hoje: será que o mundo verde pensa, e se for verdade, o que e como pensa? Decerto não se trata de pensamento com palavras, mas desde antes de Aristóteles se colocou a questão de saber se as plantas tinham “alma” (psyché), tal como os animais e sobretudo como os humanos.

 

Um segundo sentido para pensamento vegetal seria o que nós pensamos a respeito das plantas: tanto científica quanto cotidianamente o que de fato pensamos nós humanos sobre esses viventes tão próximos, mas em aparência tão distintos de nós. Embora a botânica, enquanto disciplina autônoma, date apenas do século 18 – como tantas outras formas modernas de saber –, a preocupação com o reino vegetal já existia na Antiguidade, sem falar nas diversas culturas de origem não europeia. Teofrasto escreveu dois tratados importantes por volta de 300 a.C.: Sobre a história das plantas e Sobre as causas das plantas. Digamos pontualmente que, no mundo dito ocidental, os vegetais na maior parte das vezes foram vistos apenas como fontes de consumo alimentar e de energia combustível, como provedores de substâncias medicinais, como recursos para habitação e vestimenta, entre outras utilidades. Ou seja, como meros objetos úteis, sem vida própria, digna de respeito.

 

Em dois outros sentidos bem particulares, interessa ver como hoje cientistas e filósofos, tanto quanto escritores de ficção e poesia, elaboram um pensamento inovador a respeito das plantas. Sobretudo a partir do século 20 emergiu uma visão das plantas (para referir o título de uma brilhante novela de Djaimilia Pereira de Almeida) não mais fundada no antropocentrismo nem no assim chamado zoocentrismo, o centramento biológico na vida animal. Nessa terceira (científico-filosófica) e nessa quarta (literária) significação recente para o pensamento vegetal, as plantas ganham plena autonomia existencial, sendo consideradas em sua inteligência e sensibilidade.

 

A essas quatro significações da expressão pensamento vegetal (em resumo: pensamento das plantas, dos humanos em geral sobre as plantas, dos filósofos ou cientistas e dos escritores contemporâneos sobre elas) vem se somar uma quinta: o que pensam culturas não ocidentais sobre os vegetais, especialmente duas que coexistem no espaço civilizacional brasileiro: a cultura indígena e a afrodescendente.

 

Na impossibilidade de desenvolver mais longamente os argumentos, farei um recorte interpretativo. Num primeiro momento, me interessa mostrar como alguns filósofos e cientistas, do passado e do presente, discutem a questão vegetal. Num segundo momento, comentarei o modo como alguns escritores modernos e contemporâneos expõem uma visão inovadora das plantas, em poemas ou em narrativas. Sinalizo desde já que, na contemporaneidade brasileira, são sobretudo mulheres poetas que têm se destacado nesse olhar outro sobre o mundo vegetal. E, num terceiro momento, trarei uma pequena parte das concepções atuais de indígenas brasileiros sobre essa problemática, tanto em debates intelectuais quanto sob forma de poema. É nessa derradeira etapa que emerge com toda força a noção de floresta, a qual dá plena vida ao pensamento vegetal, tornando-se quase sinônimo deste. Ou melhor, para recorrer ao vocabulário pessoano: floresta, em minhas reflexões, é uma palavra heterônima de pensamento vegetal.

 

Assinalo também o fato de, num momento em que muitas vegetações do planeta, sobretudo as chamadas rain forests ou florestas tropicais, se veem ameaçadas por incêndios, exploração predatória e todo tipo de devastação, pensar com e sobre as plantas se torna eminentemente uma atitude política e ética da maior relevância. Como desenvolvi num texto publicado em plena pandemia, a sobrevivência de praticamente todas as espécies depende do modo como trataremos doravante “nossas irmãs as plantas”.

 

A renovação botânica e a inteligência sensível das plantas

“Nossas irmãs as plantas” é uma expressão que comparece num dos poemas de Alberto Caeiro. O que os humanos mais perderam foi essa noção de irmandade congenial que tem com as outras espécies viventes: os animais e as plantas. A despeito do trabalho de Charles Darwin e de todo o desenvolvimento das ciências biológicas, principalmente nos dois últimos séculos, explicando não só a origem comum de homens e animais, mas também de todas as espécies viventes nos organismos unicelulares do meio primitivo, onde a vida se formou, agimos como se fôssemos seres divinos, nascidos prontos, tal qual vem descrito no Gênesis. Segundo o relato bíblico, após criar Adão, Deus lhe atribuiu o poder de nomear e reinar sobre todos os outros viventes. Essa soberania de origem divina outorgada ao humano fez com que agíssemos de fato como soberanos, tratando os outros animais como “bestas-feras”. Às plantas foi reservado um papel ainda pior: pelo fato de parecerem inertes, incapazes de outro movimento além de crescer, foram tratadas como “semiviventes”. Não por acaso, o verbo vegetar, que na origem tinha o sentido positivo de “animar, vivificar; dar movimento a; aumentar, fortalecer, fazer crescer”, se tornou, em praticamente todas as línguas ocidentais, sinônimo de inércia, de morbidade ou de estado de coma. A significação positiva continua no dicionário Houaiss, por exemplo, mas ninguém sabe sequer que ela existe…

 

Em De anima (Peri psychê), Aristóteles repassa todas as teorias precedentes da alma, desqualificando-as uma por uma. São convocados em sua argumentação textos de Empédocles, Anaxágoras, Demócrito e até de seu mestre Platão, entre outros. O que há de mais rico na reflexão aristotélica é que, ao contrário de diversos outros pensadores da tradição metafísica, ele não nega certa propriedade anímica às plantas; apenas o tipo de alma que detêm não é tão completo quanto a dos animais e sobretudo a dos homens: “Dentre as potências da alma [psyché], […] nas plantas subsiste somente a nutritiva, mas em outros seres, tanto esta como a perceptiva”.

 

A planta seria então, enquanto portadora de uma alma incompleta, inferior, uma vida no limite da existência. Esse preconceito metafísico foi abordado dos mais diversos modos pela tradição ocidental. Claro, todos os animais necessitam dos vegetais para extrair a energia que os mantém de pé, mas tudo não passa de uma função utilitária. Os animais são chamados de heterótrofos porque não conseguem produzir seu próprio alimento, por meio de substâncias inorgânicas e da luz solar. Já as plantas são chamadas de autótrofas pelo fato de obterem nutrição por meio da fotossíntese, das substâncias do solo e da água: produzem, desse modo, o orgânico a partir do inorgânico.

 

O fato é que quase nunca se coloca o sentido do viver vegetal em sua plena autonomia. Sintomaticamente, Heidegger, o filósofo que acusou Nietzsche de ser o último metafísico, repete os dogmas da tradição metafísica ao separar, de forma peremptória, as plantas e os animais dos humanos, como diz com todas as letras na famosa Carta sobre o humanismo, dirigida a Jean Beaufret: “Dentre todos os entes que são, o ser-vivo é provavelmente o mais difícil de ser pensado por nós, porque ele é por um lado o que mais se parece conosco, e, por outro lado, está abissalmente separado de nossa essência ek-sistente”. Entre nós, de um lado, e os animais e vegetais, do outro, existiria então um abismo.

 

Na perspectiva tradicional, faltaria às plantas esse senso de mobilidade próprio aos animais, e que já está na “raiz” de sua etimologia: o ânimo ou a anima que nos move enquanto viventes heterótrofos. Como apenas com o surgimento das câmeras de aceleração de imagens pôde-se perceber que as plantas se mexem bastante, o preconceito metafísico se perpetuou. Motivo pelo qual podem ser abatidas sem remorsos: elas não reagem porque não pensam nem sentem propriamente, e por consequência não são dotadas de existência em sentido pleno.

 

Em 2008, o Comitê Ético Federal Suíço, pela primeira vez na história da humanidade, entregou um relatório cujo título era “A dignidade dos seres vivos no que diz respeito às plantas”. Até onde se sabe, era inédita essa consideração ética do valor da vida vegetal. Mais precisamente: o valor de uma vida qualquer, independentemente da espécie ou gênero a que pertença. Segundo os cientistas, as plantas representam 85% da biomassa, os 15% restantes competem aos animais; deste último percentual menos de 1% ao corpo humano… Se por uma catástrofe natural todos os vegetais desaparecessem subitamente da face da Terra, os animais morreriam em alguns meses: por falta de oxigênio e sobretudo por escassez de alimento.

 

O filósofo Michael Marder expõe com muita clareza o que eu chamaria de dom ou dádiva vegetal:

 

A vida vegetal dinamiza [enlivens, vivifica, anima] as plantas tanto quanto, de diferentes maneiras, animais e seres humanos; a vida em comum em seu máximo despojamento é em igual medida um fim-em-si-mesma e uma fonte de vitalidade para nós. Uma ofensa contra a vida vegetal prejudica tanto as plantas que destruímos quanto algo do ser/estar vegetal em nós. Além de aniquilar as próprias plantas, a altamente agressiva exterminação da flora, que atualmente tem colocado sob ameaça de extinção até um quinto de todas as espécies vegetais no planeta, empobrece um elemento vital no que chamamos de “o humano”.

 

Diversos cientistas, sobretudo nestas primeiras décadas do século 21, têm desenvolvido pesquisas em torno da inteligência e da sensibilidade vegetal: Francis Hallé, Jean-Marie Pelt, Fleur Daugey, Stefano Mancuso e Anthony Trewavas estão entre os que mais se destacam. Mancuso, já bem traduzido no Brasil, mantém um laboratório para estudar o que chama de “neurobiologia vegetal”, não para estabelecer uma relação especular com o modelo biológico dos animais, mas sim para demonstrar o modo complexo como as células vegetais detêm altos padrões de inteligência e sensibilidade, interagindo todo o tempo com o ambiente onde vivem:

 

Os estudos mais recentes mostraram que [as plantas] são dotadas de sensibilidade, que se comunicam entre si e com os animais, que dormem, memorizam dados e são até capazes de manipular outras espécies. Além disso, merecem de pleno direito o qualificativo de inteligentes. O aparato de suas raízes se desenvolve ininterruptamente, com a ajuda de inúmeros centros de comando, cujo conjunto as guia à maneira de uma espécie de cérebro coletivo, ou antes, de inteligência distribuída, que, ao aumentar e se desenvolver, assimila informações capitais para sua nutrição e sobrevivência.

Os avanços recentes da biologia vegetal permitem ver nelas hoje organismos dotados de uma faculdade bem estabelecida para adquirir, armazenar, compartilhar e utilizar informações retiradas de seu meio ambiente. A neurobiologia vegetal tem por principal campo de pesquisa a maneira segundo a qual essas brilhantes criaturas as fornecem a si mesmas e as transformam de modo a adotar um comportamento coerente.

 

O que as plantas realmente pensam e, sobretudo, o que pensam de nós, jamais saberemos. A experiência da alteridade é, por definição, inacessível; só se pode conjeturar a respeito, sem nenhuma certeza. Mas sobre o que não há mais dúvidas é que elas são também viventes pensantes: com as características de suas espécies e respectivas linguagens, interpretam de maneira inteligente o existir-no-mundo, a fim de garantir a própria sobrevivência e a de muitos outros habitantes da Terra.

 

Fitoliteratura: a literatura pensante e a literatura em sentido ampliado

Alberto Caeiro, o mencionado heterônimo de Fernando Pessoa, em seu longo poema O guardador de rebanhos, elabora uma sofisticada reflexão crítica da visão metafísica que nós humanos temos das plantas, as quais ele considera como irmãs. Tudo se baseia no equívoco de achar que, ao nomear uma árvore, uma fruta ou uma flor, por exemplo, as conhecemos. Para ele, isso não passa de mera abstração conceitual, pois “Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la/ E comer um fruto é saber-lhe o sentido”. Seu pensamento vegetal (o modo como ele pensa as plantas) é inteiramente sensorial, o oposto do que a tradição filosófica ocidental propôs até recentemente.

 

Motivo pelo qual a Natureza, com maiúscula, para Caeiro não existe, não passando de invenção humana, que utiliza a linguagem verbal como instrumento de falsificação, por meio da produção de abstrações:

 

Vi que não há Natureza,

Que Natureza não existe,

Que há montes, vales, planícies,

Que há árvores, flores, ervas,

Que há rios e pedras,

Mas que não há um todo a que isso pertença,

Que um conjunto real e verdadeiro

É uma doença das nossas ideias.

 

Na ficção de Clarice Lispector encontra-se a mesma disposição para se relacionar de forma diferencial com os vegetais, elaborando uma sofisticada fitoliteratura: fito (do grego phytón, “vegetal, árvore, planta; rebento, descendente”) e literatura. É curioso que muitos dos críticos que leram a obra de Clarice abordaram a questão animal, mas a temática vegetal é praticamente ignorada, com poucas exceções. Fui provavelmente o primeiro a fazê-lo de forma mais sistemática em Clarice Lispector: uma literatura pensante, no qual duas seções propõem esse tipo de leitura: “A estética das sensitivas” e “A desnatureza das flores”. O fato de a crítica ignorar as plantas claricianas como problemática plena é estrutural: nosso olhar antropocêntrico se volta sempre para o que mais nos assemelha: os animais, pois em sua maioria têm olhos, bocas, focinhos, orelhas, membros e órgãos análogos aos nossos.

 

Entre muitas narrativas vegetais em C.L. a mais conhecida é sem dúvida o conto “Amor”. É a história de uma dona de casa que se sente perturbada por se ver num cego mascando chicles no ponto do bonde, indo parar no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde tem uma experiência de absoluto estranhamento:

 

Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.

 

Porém o livro vegetal por excelência é Água viva. O leitor ou a leitora é convidado/a explicitamente a “mudar-se para reino novo”, onde tudo vem ao modo de quadros e visões, pois a narradora é duplo de pintora e escritora: “Quero pintar uma rosa”. Nesse sentido, ela descreve muitas flores (estrelícia, gerânio, edelvais, vitória-régia, cravo, girassol e outras), exibindo uma floresta verbal: “Entro lentamente na escrita como já entrei na pintura. É um mundo emaranhado de cipós, sílabas, madressilvas, cores e palavras”.  Água viva afigura erupções florais, espargindo cores, aromas e texturas para todos os lados, num corpo a corpo com a natureza que se faz cultura, e vice-versa. Essa suspensão provisória dos limites entre universo natural e cultural, dentro de um vasto mundo vegetal, é o efeito mais poderoso da poética e da estética das sensitivas, ofertando-se como uma floresta de sensações. Sobretudo a própria narradora anônima rompe as barreiras entre o humano e o vegetal: nesse “âmago” ficcional, advém “a estranha impressão de que não pertenço ao gênero humano”, ocorrendo diversas vezes a transmutação ou a intertroca com o reino vegetal: “Sou uma árvore que arde com duro prazer” e “Meu impulso se liga ao das raízes das árvores”.

 

Na literatura brasileira do século 20 há diversos exemplos da importância textual das plantas: entre outros, o cacau em Jorge Amado, as flores em Cecília Meireles, a cana-de-açúcar em João Cabral de Melo Neto e em José Lins do Rego, o buriti e toda a vegetação do sertão em Guimarães Rosa, a metafórica (mas também real) “rosa do povo” de Carlos Drummond de Andrade, o cacto de Manuel Bandeira. Já na literatura contemporânea, Ferreira Gullar escreveu um lindo poema sobre “A planta”, e outros sobre “bananas podres”, além de “Relva verde relva” e “Uma corola”. Edimilson de Almeida Pereira tem, entre outros, um denso poema intitulado “Verde visto do alto”. Leonardo Fróes é um poeta ligado ao ambiente em que vive, na região serrana de Petrópolis, autor do poema “Algumas variações culturais”, que mistura natureza e cultura, como instâncias não opositivas. Sérgio Medeiros formula poesia nonsense em O sexo vegetal, e referências clorofílicas comparecem em vários livros seus. Mas destacam-se sobretudo as poetas, como se certo estar-mulher-no-mundo facilitasse essa conexão vegetal própria à fitoliteratura: Adélia Prado tem poemas dedicados ao mundo vegetal, Cláudia Roquette-Pinto publicou o premiado Corola, Josely Vianna Baptista organizou uma linda Roça Barroca, com tradução de Cantos guaranis e poemas florais próprios, Adriana Lisboa lançou recentemente O vivo, em que as flores vicejam contra o excesso de simbolismo, Julia Hansen tem já em dois títulos a inscrição vegetal (Romã e Seiva, veneno ou fruto), Katia Maciel escreveu Plantio e Ana Martins Marques dedicou um livro inteiro aos Jardins, no qual se destaca, entre outras germinações esta:

 

Desconheço o nome

das plantas

Mas também desconheço o nome

de boa parte de meus vizinhos

Ao contrário das pessoas

as plantas não ligam

Não me dirijo a elas pelo nome

mas também na verdade

não me dirijo a elas

Elas nada pedem e nunca reclamam

às vezes perdem muitas folhas ou apenas,

e em silêncio, morrem

Estão sempre mudando

nunca

se mudam

Estamos

por enquanto

neste pé

 

Expõe-se, em princípio, o anonimato das plantas. Ainda que todas as espécies que se deram ao conhecimento ganhem designações científicas e/ou populares, os vegetais nunca recebem individualmente nomes, ao menos não em nossas culturas ocidentais. Isso se deve ao já aludido fato de que eles, à diferença dos animais, quase nunca são percebidos como verdadeiros indivíduos, muito menos como “sujeitos” ou “pessoas”. Cães e gatos, bem como animais silvestres em cárcere doméstico ou público, recebem até mesmo nome de gente: além do clássico Rex, do hilário Pluto, do célebre Knut (estrela de destino trágico no zoo de Berlim, na primeira década deste século), pode-se ouvir Igor, Katy, Max, Susana, Tião (famoso macaco do zoo do Rio, já falecido) etc., nomeando nossos “companheiros específicos” (para lembrar as “espécies companheiras” – companion especies – de Donna Haraway).

 

Para nós, um abacateiro ou um pé de couve representa sua espécie e não a si mesmo individualmente. A isso, as plantas respondem com a mais absoluta indiferença, enquanto os cães e os gatos estão sempre atentos ao modo como são chamados, sobretudo os primeiros. Esse silêncio das plantas (ao menos para nossos ouvidos, porque no fundo o fluxo da seiva no tronco e nos galhos produz, sim, algum som, mas para nós inaudível) é a marca do reino vegetal e, tanto quanto sua aparente imobilidade, ajudou a formatar o estereótipo de que apenas “vegetam”, em sentido negativo, estando mais próximas, portanto, do reino inerte das pedras (o qual também somente em aparência é totalmente imóvel). Como visto, isso é falso, servindo de argumento para o rebaixamento dos vegetais na perspectiva dos humanos e dos outros animais. De qualquer modo, na penúltima estrofe, por meio da conjugação dúbia do verbo mudar(-se), a suposta imobilidade das plantas é paradoxalmente questionada “Estão sempre mudando”) e afirmada (“nunca/ se mudam”); ou seja, a cada estação mudam de roupagem, sem que aparentemente mudem de lugar (o que é falso, pois adoram migrar, e isso pode ocorrer por meio de mudas ou de sementes espalhadas, por exemplo).

 

Um dos componentes mais fortes do poema é, com efeito, certa incomunicação dos vegetais para conosco: embora cultivados e modificados pela espécie humana, permanecem em seu mutismo enigmático, desafiando nossa prepotente soberania. E assim, “Estamos/ por enquanto/ neste pé”, quer dizer, é por essa situação de incomunicação interespecífica que a planta se mantém “de pé”, como pé de goiaba, de açaí, de maçã ou de qualquer outra saborosa fruta. Alheamento bem demarcado noutro poema da mesma coletânea de Marques, o qual fala de uma árvore que sempre floria, independentemente do que acontecia ao redor do mundo: “Floria sempre/ a cada ano/ indiferente aos acontecimentos”.

 

Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e todos os autores e autoras mencionados fazem o que chamo de literatura pensante: aquela que nos permite pensar o impensado e até mesmo o impensável da tradição metafísica ocidental. Por exemplo, nossa relação com as plantas, que é bastante distinta das culturas indígenas e também das afrodescendentes do Brasil. Esse acoplamento da letra ao universo vegetal, por meio de um pensamento literário, corresponde ao que hoje se chama de literatura em sentido expandido: não mais a ficção, o drama, o ensaio ou o poema dentro de uma convenção tradicional, mas sim a textualidade literária se conectando a universos situados muito além do humano. A expressão que forjei em 1995 uma literatura ou escrita pensante se deixa enxertar, portanto, nessa literatura contemporânea em sentido ampliado.

 

Pensamentos indígenas: floresta é o mundo

Se há culturas relacionadas à vegetação, estas são as dos povos originários nas Américas. Em especial, os indígenas do território hoje designado “Brasil”, e que já estavam aqui muito antes da invasão portuguesa no século 16. Eram em sua grande maioria (e muitos ainda são) povos da floresta, que nelas residiam e delas tiravam seu sustento. De modo que a Amazônia, por exemplo, tem sua configuração atual em grande parte devido à intervenção humana, mas sem o aspecto destrutivo da exploração e da colonização lusitana.

 

Num texto que aborda as relações complexas entre espécies humanas e espécies vegetais na Amazônia ao longo dos séculos, Laura Pereira Furquim expõe como a biodiversidade da floresta não se deve apenas a fatores endógenos, mas contou muito cedo com a participação humana. Nesse sentido, a multiplicidade dos laços sociais dentro dos grupos étnicos e entre eles se reflete na biodiversidade resultante dos cultivos variados, em vez da entediante e nociva monocultura. No plano social, tanto quanto no plano do cultivo das plantas, a abertura ao outro e os cruzamentos incessantes são fonte de riqueza e preservação da vida.

 

Ailton Krenak, Sônia Guajajara, Davi Kopenawa, Sandra Benites Guarani, Daniel Munduruku, João Paulo Barreto (Tukano), entre muitos outros, são indígenas de diversas etnias que têm oferecido uma compreensão sobre o universo vegetal completamente distinta do pensamento filosófico. Se Hegel, em sua Introdução à história da filosofia, recorre a metáforas botânicas para falar do percurso fenomenológico do Espírito (Geist), até superar os limites contingenciais da existência por meio da suprassunção (Aufhebung), sua interpretação acerca do pensamento é explicitamente antropocêntrica: “Tudo o que é humano só o é na medida em que o pensamento está aí em ação; pode aparecer como quiser se é humano, só o é graças ao pensamento. Só por este é que o homem se distingue do animal”. Esse é o argumento especista de base, que fundamenta todos os preconceitos contra as demais espécies: à diferença do que concebem algumas religiões não ocidentais, nas civilizações de fundamento cristão só o Homem foi feito à imagem do Deus, e por isso sua existência tem prioridade absoluta em relação aos demais viventes: “A prioridade do homem, imagem de Deus, sobre o animal e a planta admitir-se-á em si e por si”.

 

Ailton Krenak, pertencente à etnia indicada por seu sobrenome, tornou-se uma das vozes mais importantes no que diz respeito à questão ambiental no Brasil, sobretudo no período da pandemia da Covid-19, que se iniciou em março de 2020. O indígena tem feito diversas intervenções públicas, por meio de entrevistas, palestras, debates e livros.

 

Uma das ideias mais argutas do pensador Krenak diz respeito ao conceito de “humanidade”. Sua principal crítica vai no sentido da tendência, sobretudo nas culturas ocidentais, a separar os humanos de todos os outros “seres” ou, como prefiro dizer, de todos os outros viventes e coisas, desvinculando-os consequentemente de todo o resto do planeta e inventando um mundo para eles próprios. No contexto da pandemia, suas colocações atingem contundência máxima:

 

Temos que abandonar o antropocentrismo; há muita vida além da gente, não fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário. Desde pequenos, aprendemos que há listas de espécies em extinção. Enquanto essas listas aumentam, os humanos proliferam, destruindo florestas, rios e animais. Somos piores que a covid-19. Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos.

 

Palavras que encontram pleno eco nas de Davi Kopenawa, que, de forma dadivosa, nos legou em livro sua vasta e sensível experiência de xamã, a qual deveríamos trazer para nosso viver cotidiano, a fim de abalar nosso contato abstrato e preconceituoso com as plantas e os demais viventes. Uma longa citação, que expressa toda uma poética e uma estética da existência indígena:

 

As árvores da floresta e as plantas de nossas roças também não crescem sozinhas, como pensam os brancos. Nossa floresta é vasta e bela. Mas não o é à toa. É seu valor de fertilidade que a faz assim. É o que chamamos de në rope. Nada cresceria sem isso. O në rope vai e vem, como um visitante, fazendo crescer a vegetação por onde passa. Quando bebemos yãkoana, vemos sua imagem que impregna a floresta e a faz úmida e fresca. As folhas de suas árvores aparecem verdes e brilhantes e seus galhos ficam carregados de frutos. Vê-se também grande quantidade de pupunheiras rasa si, cobertas de pesados cachos de frutos, pendurados na parte de baixo de seus troncos espinhosos, e imensas plantações de bananeiras e pés de cana-de-açúcar. Esse valor de fertilidade da terra está ativo por toda parte. É ele que faz acontecer a riqueza da floresta e que, desse modo, alimenta os humanos e a caça. É ele que faz sair da terra todas as plantas e frutos que comemos. Seu nome é o de tudo o que prospera, tanto nas roças como na floresta.

 

A fertilidade do solo propicia o vigor da vegetação, que desse modo se autossustenta, ao mesmo tempo alimentando igualmente animais e humanos, como só as dadivosas plantas conseguem fazê-lo. Esse saber xamânico, proporcionado por uma visão fina da floresta, deveria ser transmitido para as novas gerações de brasileiros e de outras nacionalidades, como uma herança dadivosa que nos ajudaria a manter outras relações com o universo vegetal, animal e mineral como um todo. Não mais nos limitaríamos a pensar as vidas humanas e outras como meros instrumentos de utilidade na produção hipercapitalista contemporânea.

 

As plantas são ubíquas porque a vida como a conhecemos sem elas não existiria: de maneira discreta, silenciosa e por vezes invisível, estão em toda parte, como o sertão de Guimarães Rosa, nos alimentando e protegendo as múltiplas formas de vida no planeta. De modo que a grande maioria dos viventes animais (humanos e não humanos) depende dos vegetais, fazendo da Terra uma grande floresta virtual. Se para Hélio Oiticica, “museu é o mundo”, para o pensamento vegetal que defendo, Floresta é o mundo.

 

O conceito de floresta é essencialmente relacional: tudo está conectado, tudo é compartilhável, e há que se cultivar esses espaços em-comum, que nossas irmãs as plantas propiciam. O grande erro da modernidade foi ter setorizado os saberes, sem a preocupação de fazê-los se comunicarem entre si. A autonomia (humana e outra) só pode ser plena se enxertada e fecundada pela heteronomia: algo se define também ou sobretudo pelo que não é, pelo outro, o diferente. Floresta é o mundo e o mundo é relação. E a literatura representa a floresta por excelência, a começar pelo suporte-livro que a sustenta há séculos. Como diz o belíssimo poema “Liber”, de Ana Martins Marques, incluído nesta coletânea: “Foram árvores/ os livros/ um dia// recolheram o sol e a chuva/ e deram abrigo/ a pássaros de passagem”.

 

No momento em que a população humana sofre as consequências de uma pandemia, decerto por ela mesma provocada, as palavras da líder indígena Sonia Guajajara funcionam como convocação solidária:

 

As pessoas têm que repensar as suas formas de consumo, têm que entender que o individualismo precisa acabar, que temos que adotar formas coletivas de fazer as coisas, fortalecer os trabalhos em redes. E principalmente assumir a sua responsabilidade nessa luta pela mudança do modelo de desenvolvimento econômico, esse modelo precisa ser rompido urgentemente, e somente nós indígenas ou ambientalistas não vamos conseguir fazer essa pressão para essa mudança acontecer. […] Para isso as lutas têm que ser mais coletivas, a conscientização mais política e ecológica, entendendo que é preciso fazer outra conexão, ou uma reconexão com a mãe terra, e entender exatamente que é a mãe terra que garante o sustento e a vida no planeta.

 

Isso é o que tenho defendido, em diálogo com o pensamento de Derrida, como solidariedade de todos os viventes, e não apenas a solidariedade humana. Pois somos todos e todas habitantes de uma vasta floresta mundial, atualmente em curso de destruição, por causa da espécie que se acha a mais soberana de todas: a do pouco sábio Homo sapiens sapiens.

 

A temática vegetal tem a ver com a opressão política: da série dos viventes as plantas são as mais vulneráveis, porque seus mecanismos de autodefesa são bem menos ágeis do que os dos animais. O tempo do vegetal é outro, não tem a pressa daqueles que se dizem cheios de “ânimo”, mas que dependem das plantas para sobreviver, pois necessitam do oxigênio que libera para a atmosfera e se alimentam das folhas, frutos e legumes que produzem. Então os indivíduos identificados à temática LGBTQIAP+, as mulheres, os afrodescendentes, os indígenas e as etnias oprimidas como curdos e palestinos são aliados em potencial das plantas. Não se deve esquecer tampouco dos operários e trabalhadores em geral, nem mesmo dos setores de classe média menos favorecidos. Num momento em que os trabalhadores perdem direitos no mundo inteiro por causa do ultraliberalismo, é preciso que todas as pautas progressistas, quer dizer, situadas à esquerda do espectro político, sejam reunidas sob uma mesma luta. A palavra de ordem não seria mais “operários do mundo inteiro, uni-vos”, mas sim “oprimidos do mundo inteiro, uni-vos!”. Uni-vos sob a proteção florestal!

 

Concluo com uma citação fitopoética do belo Soneto amazônico”, do indígena Yaguarê Yamã:

 

Sobre as águas pitingas do Arawá

Ygara que desliza calmamente

Entre galhos – caniços de araçás

No reflexo dourado quase ausente.

 

O amor pelas plantas, que esses textos literários demonstram, é francamente distinto do desprezo pelas florestas que praticam muitos governos de países através do globo, sobretudo o nosso – é o que chamo de fitofobia: horror aos vegetais. A “estranha instituição chamada literatura” é um dos discursos mais potentes para fazer vicejar cada vez mais o mundo, verdejando-o.

 

Evando Nascimento é escritor, professor universitário, ensaísta e artista visual. Ensinou na Universidade Federal de Juiz de Fora e na Université Stendhal de Grenoble. Nos anos 1990, foi aluno de Jacques Derrida na École des Hautes Études en Sciences Sociales e de Sarah Kofman na Sorbonne. Em 2007, fez um pós-doutorado em filosofia na Universidade Livre de Berlim. Já deu cursos e palestras em diversas instituições como Uso, Manchester University e PUC-Valparaiso.

Publicou, entre outros: Derrida e a literatura (É Realizações, 3. ed., traduzido na Argentina por La Cebra), Clarice Lispector: uma literatura pensante (Civilização Brasileira) e, com textos seus e de Derrida, La solidarité des vivants et le pardon (Hermann), além de O pensamento vegetal: literatura e plantas (Civilização Brasileira). Publicou também cinco livros de ficção, entre os quais, Retrato desnatural e Cantos do Mundo (finalista do Prêmio Portugal Telecom), ambos pela editora Record, A desordem das inscrições (7 Letras) e Diários de Vincent: impressões do estrangeiro (Circuito). Site: http://www.evandonascimento.net.br/.

 

Notas


1 Este ensaio é inevitavelmente um desdobramento de meu livro O pensamento vegetal: a literatura e as plantas (Civilização Brasileira, 2021). Nele, abordo a questão vegetal a partir da literatura, tendo igualmente, de ponta a ponta, a filosofia e as ciências como fios condutores; as artes entram também como exemplo reflexivo.

2 Djaimilia Pereira de Almeida. A visão das plantas. São Paulo: Todavia, 2021.

3 Evando Nascimento. Notas sobre o coronavírus e a sobrevivência das espécies. In: Peter Pal Pélbart (org.). Pandemia crítica. São Paulo: N-1, Sesc, 2021, p. 197-204.

4 Alberto Caeiro. O guardador de rebanhos. In: Fernando Pessoa. Obra poética. Sel., org. e notas Maria Aliete Galhoz. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983, p. 149.

5 La bête et le souverain [A besta ou a fera e o soberano] é o título de dois volumes póstumos de Jacques Derrida, editados a partir de seu último seminário na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris: Jacques Derrida. Séminaire la bête et le souverain: v. I (2001-2002). Org. e notas Michel Lisse, Marie-Louise Mallet e Ginette Michaud. Paris: Galilée, 2008; e Séminaire la bête et le souverain: v. II (2002-2003). Org. e notas Michel Lisse, Marie-Louise Mallet e Ginette Michaud. Paris: Galilée, 2010.

6 Todas as etimologias foram retiradas do Dicionário on-line UOL-Houaiss. Disponível em: https://houaiss.uol.com.br/pub/apps/www/v3-0/html/index.htm#3. Acesso em: 21 maio 2021.

7 Aristóteles. De anima. Trad., apr. e notas Maria Cecília Gomes dos Reis. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 2017, p. 77.

8 Martin Heidegger. Carta sobre o humanismo. In: Marcas do caminho. Trad. Enio Paulo Giachini e Ernildo Stein. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 338.

9 Michael Marder. Plant-thinking: A Philosophy of Vegetal Life. Nova York: Columbia University Press, 2013, p. 182. (Salvo indicação contrária, as traduções são minhas.)

10 Mancuso, 2018, p. 208-209.

11 Alberto Caeiro. O guardador de rebanhos, op. cit., p. 146.

12 Id., p. 160.

13 Evando Nascimento. Clarice Lispector: uma literatura pensante. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

14 Clarice Lispector. Laços de família. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982, p. 23.

15 Clarice Lispector. Água viva. Edição com manuscritos e ensaios inéditos. Org. Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Rocco, 2019, p. 64.

16 Id., p. 31.

17 Id., p. 42, 50 e 53, respectivamente.

18 Ana Martins Marques. O livro dos jardins. São Paulo: Quelônio, 2019, p. 10.

19 Donna Haraway. The Companion Species Manifesto: Dogs, People, and Significant Otherness. In: Manifestly Haraway. 1Minneapolis; Londres: University of Minnesota Press, 2016, p. 91-198.

20 Ana Martins Marques. O livro dos jardins, op. cit., p. 20.

21 Laura Pereira Furquim. O acúmulo das diferenças: nota arqueológica sobre a relação entre sócio e biodiversidade na Amazônia Antiga. In: Joana Cabral de Olveira et al. Vozes vegetais: diversidade, resistências e histórias da floresta. São Paulo: Ubu, 2020, p. 125-39.

22 Hegel. Introdução à história da filosofia. Trad. Heloisa da Graça Burati. 2. reimpr. São Paulo: Rideel, 2005, p. 60.

23 Id., p. 37.

24 Ailton Krenak. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020, p. 81-82. Grifos meus. Ver também de Krenak: Ideias para adiar o fim do mundo. 5. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

25 Davi Kopenawa e Bruce Albert. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Ed. de Bruce Albert. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. 2. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 207.

26 Katia Marko e Fabiana Reinholz. Sônia Guajajara comemora a liderança das mulheres indígenas na luta por direitos. Brasil de Fato, 9 jun. 2020. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/06/09/povos-indigenas-vivem-momento-traumatico-afirma-sonia-guajajara. Acesso em: 20 set. 2021.

27 Yaguarê Yamã. Soneto amazônico. In: Beatriz Azevedo (org.). Poesia indígena hoje. Poesia.org., Universidade Federal de Santa Catarina, 2020. p. 85. Disponível em: https://www.p-o-e-s-i-a.org/dossies/?fbclid=IwAR2e1uvZH0LmOczVa1xQSrWpktJGpB3eulLLsOKFwvf0hzWXy64eVNFDEpA. Acesso em: 20 set. 2021.

 

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