Com Cecilia Vicuña, Júlia de Carvalho Hansen e Leonardo Froés
Mediação: Ludmilla Lis é escritora e mestre em estudos étnico-raciais
Nos anos 1970, o poeta carioca Leonardo Fróes foi morar num sítio na região de Petrópolis, onde se dedicou a cultivar e a refletir sobre plantas, e a escrever poemas relacionados à temática ambiental, tanto quanto a problemas demasiado humanos, como se pode atestar em sua Poesia reunida. O interesse sobre as plantas, animais e afins também comparece na obra de Júlia de Carvalho Hansen, poeta de uma geração mais jovem, em livros como Romã e Seiva veneno ou fruto. Nesta mesa, a escritora e o escritor brasileiro encontram-se com Cecilia Vicuña, artista e também poeta chilena que fez de seu trabalho uma plataforma de luta, na defesa aos direitos humanos ou na denúncia da destruição ambiental. Seu trabalho ganhou o Premio Velázquez e foi exposto na mais recente Documenta de Kassel. Uma de suas propostas se inspira nos quipus andinos, objetos feitos com fios e nós, que serviam para a contabilidade e para contar histórias. O encontro dos três ajudará a deslocar o antropocentrismo que relega os viventes não humanos, em particular os vegetais, a segundo plano. Nesse sentido, os “fios de palavra” (expressão de Carlos Papá, cineasta e liderança guarani) da poesia se entrelaçam aos fios das instalações da artista, num emaranhado que remete também aos cipós e lianas das florestas. Forma-se assim uma tessitura verbal-vegetal para cuidar da saúde planetária.