Com Djaimilia Pereira de Almeida e Elif Shafak
Mediação: Mirna Queiroz é jornalista, editora e curadora; fundou e é editora executiva da revista Pessoa
Em seu pequeno e denso romance A visão das plantas, um dos vencedores do prêmio Oceanos de 2020, Djaimilia Pereira de Almeida reescreve o final da vida do luso Capitão Celestino. O personagem foi um cruel pirata e traficante negreiro que, ao se aposentar, retornou a sua cidade natal, vivendo sozinho na casa da família e cuidando do jardim antes abandonado. É na tensão entre a crueldade de Celestino e o modo delicado como trata as plantas que a história propõe uma revisão das ações humanas ambivalentes. Já a turca Elif Shafak, em The Island of Missing Trees [A ilha das árvores desaparecidas], conta a história de amor proibido entre Kostas e Defne Kazantzakis, o primeiro cristão grego, a segunda muçulmana turca, e os conflitos que surgem daí. Um dos capítulos é narrado na perspectiva de uma figueira, expondo a violência colonial e os preconceitos veiculados e criticados no texto. Tanto no romance da angolana Almeida quanto no da turco-britânica Shafak estão em jogo os conflitos e os traumas que o colonialismo acarreta, tendo como uma de suas motivações narrativas o elemento vegetal: no primeiro caso um jardim português, no segundo uma figueira de origem cipriota.