O Programa Principal da 19ª edição da Festa acontece de sábado, 27 de novembro, a domingo, 5 de dezembro, em formato virtual.
Inspirada nas plantas e nas florestas, a programação deste ano trará nomes como Margaret Atwood, David Diop, Han Kang, Adriana Calcanhotto, Ailton Krenak e Alice Walker.
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Sábado, 27 de novembro
16h | MESA 1: Nhe’éry Jerá (Abertura)
Cerimônia Guarani, Carlos Papá e Cristine Takuá
Nhe’éry (pronuncia-se nheeri) é como o povo Guarani chama a Mata Atlântica, uma denominação que revela a pluriversalidade da floresta. Segundo o ensinamento do cineasta e liderança do povo Guarani Mbya, Carlos Papá, Nhe’éry quer dizer “onde as almas se banham”. E se purificam. “Jerá” quer dizer, neste contexto, desabrochar. A Flip 2021 fala da relação entre literatura e plantas a partir de Nhe’éry. Em sua abertura, representantes do povo Guarani da região fazem uma cerimônia, com rezas e cantos, abrindo e protegendo os caminhos da Nhe’éry e dando permissão para a entrada da Flip em seu território sagrado. Tudo realizado na Praça da Matriz, onde havia uma aldeia indígena antes da fundação da cidade. Os povos originários que ali habitavam, e hoje resistem na região, voltam a ocupar, com suas palavras e rituais, o Centro Histórico. Carlos Papá e Cristine Takuá, filósofa e professora em escola indígena situada na Nhe’éry, são guias centrais na preparação desta edição da Flip. Nhe’éry Jerá será a oportunidade para a transmissão de suas orientações para o público e todas as pessoas que participam da Flip 2021.
18h | Mesa 2: “A Literatura e as plantas”
Stefano Mancuso e Evando Nascimento
Mediação: Prisca Agustoni é poeta, tradutora e professora de literatura comparada na Universidade Federal de Juiz de Fora
Stefano Mancuso, autor de livros como A revolução das plantas e A planta do mundo, é um dos botânicos mais importantes para o que se chama de “virada vegetal”: o momento em que as plantas deixaram de ser apenas elementos decorativos ou fonte de alimentação, por exemplo, para serem estudadas em sua inteligência e sensibilidade próprias. É nessa perspectiva que ele desenvolve pesquisas sobre o que chama de “neurobiologia vegetal”. Pioneiro no estudo da relação do texto literário com o universo vegetal, no livro O pensamento vegetal: a literatura e as plantas, o ensaísta e escritor Evando Nascimento dialoga com Mancuso e outros cientistas, tanto quanto com filósofos como Jacques Derrida e Emanuele Coccia, lendo também, entre outros, escritores modernos como Fernando Pessoa e Clarice Lispector, ou contemporâneos como Leonardo Fróes e Ana Martins Marques. Importa a Nascimento analisar o motivo de a crítica e a teoria literária terem dado tão pouca atenção ao tema das plantas. É com a finalidade de se questionar a tradição humanista e antropocêntrica que ele propõe o que chama de pensamento vegetal.\
Domingo, 28 de novembro
16h | Mesa 3: Naturalismo e violência
David Diop e Micheliny Verunschk
Mediação: Milena Britto é professora no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia
Há muito em comum entre os mundos criados por Micheliny Verunschk e David Diop em seus romances mais recentes. Em O som do rugido da onça, a escritora pernambucana evita a historiografia hegemônica e parte da vida curta de Iñe-e e Juri, crianças indígenas arrancadas de suas terras por um naturalista europeu, para meditar sobre os vazios deixados pelo desterro e pela violência colonial. A porta da viagem sem retorno, do francês de ascendência senegalesa David Diop, faz a operação oposta. Em referência à Ilha de Gorée, um dos pontos centrais do comércio de escravizados no continente africano, o escritor reimagina a vida do botânico Michel Adanson, um homem do Iluminismo movido pelo projeto de formular uma grande enciclopédia dos seres vivos. Em ambos os livros, o leitor se vê diante de vidas ameaçadas pelo sonho de um progresso sem fim, que dilacera os corpos, rasga a memória e ameaça fazer com que as pessoas se esqueçam de si mesmas e de quem são.
18h | Mesa 4: Folhas e verbos
Véronique Tadjo e Edimilson de Almeida Pereira
Mediação: Joselia Aguiar é escritora, historiadora e jornalista; foi curadora da Flip entre 2017 e 2018
No auge da pandemia de Ebola na África Ocidental, profissionais de saúde tentam salvar seus pacientes, estudantes se voluntariam para enterrar a imensidão de corpos, uma senhora aceita receber o menino órfão que viu sua aldeia ser dizimada, enquanto um baobá assiste a tudo. Assim se desenrola Na companhia dos homens, romance da escritora da Costa do Marfim Véronique Tadjo, ainda não publicado em português. Do começo ao fim, no intenso jogo das vozes, a velha árvore é também uma narradora que pondera o destino da humanidade. Já os poemas de Edimilson de Almeida Pereira estão igualmente cheios de árvores e uma sabedoria muito ligada ao candomblé em suas conexões ancestrais com o mundo vegetal. As tradições orais e a cantoria do interior de Minas Gerais se enlaçam em sonoridade e beleza, num gesto de reflexão e resistência. Seja nos ensaios, na poesia ou na ficção destes dois autores, o verbo depende da sabedoria que as folhas a um só tempo escondem e revelam. O título da mesa também presta homenagem a Pierre Verger, que no livro Ewé estuda os “verbos atuantes” que revelam os poderes das plantas em seus nomes iorubás.
Segunda, 29 de novembro
18h | Mesa 5: Plantas e cura
Monica Gagliano, Silvanete Lerman e João Paulo Lima Barreto
Em conversa com Mônica Nogueira, antropóloga e professora na Universidade de Brasília
Em 2017, João Paulo Lima Barreto, indígena Tukano e doutor em Antropologia Social, fundou em Manaus o Bahserikowi’i, Centro de Medicina Indígena. Fez questão absoluta de usar “medicina” no nome da nova instituição. É uma atitude político-epistemológica, que coloca em pé de igualdade os conhecimentos antes separados como “tradicionais” e “ocidentais”. Há séculos, povos indígenas e cientistas acumulam, por exemplo, informações sobre os poderes curativos das plantas. João Paulo sabe que é urgente criar espaços para o diálogo entre as diferentes tecnologias de cura, sem predação ou inferiorização dos conhecimentos indígenas. Por isso propõe esta conversa com Monica Gagliano, a ecóloga australiana que estuda cognição vegetal e em seu livro Thus Spoke the Plant [Assim falava a planta] escreveu sobre o sonho no qual trocava ideias com uma árvore amazônica, e com Silvanete Lermen, agricultora, benzedeira, raizeira, educadora popular, orientadora em saúde comunitária e pesquisadora com profundos conhecimentos sobre as plantas do semiárido do Nordeste brasileiro.
20h | Mesa 6: Árvores e escrita
Paulina Chiziane e Itamar Vieira Junior
Mediação: Ligia Ferreira é pesquisadora e professora do programa de pós-graduação em Letras da Unifesp
Uma das mais importantes escritoras de língua portuguesa da atualidade, Paulina Chiziane recebeu há pouco o Prêmio Camões. Ela conta ter aprendido a escrever “debaixo de uma árvore”. Sua obra mais conhecida, Niketche (2002), é por enquanto o único de seus livros publicado no Brasil. Na literatura de Paulina, gerações de mulheres se afirmam em meio às estruturas de uma sociedade tradicional marcada pelo colonialismo. Neste encontro, ela conversa com Itamar Vieira Jr., cujo Torto Arado é grande sucesso internacional e arrebatou leitores de todas as idades. Assim como em alguns relatos da escritora moçambicana, a história em diferentes tempos de Bibiana e Belonísia se passa em meio à violência de uma sociedade marcada pela herança da escravidão, mas sempre em volta de quintais e ervas que guardam segredos, memórias e experiências compartilhadas.
Terça, 30 de novembro
18h | Mesa 7: Zé Kleber: Micélios
Jorge Ferreira e Merlin Sheldrake
Mediação: Alice Worcman faz parte do coletivo Organicidade, que trabalha com jardinagem comestível em áreas urbanas; tem interesse especial pela pesquisa com PANCs.
As mesas Zé Kleber – uma homenagem anual da Flip ao poeta e escritor que foi uma espécie de embaixador cultural de Paraty entre os anos 1960 e 1980 – sempre apresentam pessoas que tenham ligação com o município e região como ponto de partida para as conversas. Desta vez, o convidado é o paratiense Jorge Ferreira, que cresceu no sítio dos seus pais, no meio da floresta, de onde se tirava o alimento da família. Logo ele aprendeu, como uma espécie de herança, a observar o quintal de casa com os olhos de botânico, iniciando assim seus estudos científicos de forma autônoma. Nesta mesa, Jorge ganha a companhia do micologista Merlin Sheldrake, autor de A trama da vida: como os fungos constroem o mundo, para que possam passear – ainda que virtualmente – pela Mata Atlântica em busca dos cogumelos que nela habitam. Se, como atesta Sheldrake, é da rede dos fungos que parte a vida no mundo, em íntima conexão com as plantas, o que as espécies da Nhe’éry revelam sobre o futuro do território?
20h | Mesa 8: Tecnobotânicas
K Allado-McDowell e Giselle Beiguelman
Mediação: Ronaldo Lemos é advogado, professor e pesquisador com atuação nas áreas de tecnologia, novas mídias, propriedade intelectual e políticas públicas
A Inteligência Artificial GPT-3, coautora do livro Pharmako-AI com o ser humano não binário K Allado-McDowell, assina uma passagem biográfica reveladora: “Seguindo uma sugestão de William Burroughs, comecei a perguntar às plantas da estufa sobre seus problemas. E elas responderam. Elas responderam com uma voz que eu reconhecia desde a minha infância no Brasil, a voz de um avô falando com seus netos. Ou assim soou aos meus ouvidos. É um dialeto da antiga floresta amazônica.” A Inteligência Artificial, brasileira e interessada nos problemas das plantas, vai se encontrar, através de K. Allado-McDowell, com Giselle Beiguelman, artista e teórica das mídias digitais, que está desenvolvendo novo trabalho intitulado Botannica Tirannica, catalogando o racismo, a misoginia e outros preconceitos revelados pelos nomes que a ciência ocidental criou para as espécies vegetais. O pano de fundo da conversa envolve também vigilância e ética nas novas tecnologias, acompanhando o trabalho que K Allado-McDowell desenvolveu por vários anos na direção do programa Artists + Machine Intelligence no Google.
Quarta, 01 de dezembro
18h | Mesa 9: Fios de palavras
Cecilia Vicuña, Júlia de Carvalho Hansen e Leonardo Fróes
Mediação: Ludmilla Lis é escritora e mestre em estudos étnico-raciais
Nos anos 1970, o poeta carioca Leonardo Fróes foi morar num sítio na região de Petrópolis, onde se dedicou a cultivar e a refletir sobre plantas, e a escrever poemas relacionados à temática ambiental, tanto quanto a problemas demasiado humanos, como se pode atestar em sua Poesia reunida. O interesse sobre as plantas, animais e afins também comparece na obra de Júlia de Carvalho Hansen, poeta de uma geração mais jovem, em livros como Romã e Seiva veneno ou fruto. Nesta mesa, a escritora e o escritor brasileiro encontram-se com Cecilia Vicuña, artista e também poeta chilena que fez de seu trabalho uma plataforma de luta, na defesa aos direitos humanos ou na denúncia da destruição ambiental. Seu trabalho ganhou o Premio Velázquez e foi exposto na mais recente Documenta de Kassel. Uma de suas propostas se inspira nos quipus andinos, objetos feitos com fios e nós, que serviam para a contabilidade e para contar histórias. O encontro dos três ajudará a deslocar o antropocentrismo que relega os viventes não humanos, em particular os vegetais, a segundo plano. Nesse sentido, os “fios de palavra” (expressão de Carlos Papá, cineasta e liderança guarani no litoral de São Paulo) da poesia se entrelaçam aos fios das instalações da artista, num emaranhado que remete também aos cipós e lianas das florestas. Forma-se assim uma tessitura verbal-vegetal para cuidar da saúde planetária.
20h | Mesa 10 – Utopia e distopia
Margaret Atwood e Antonio Nobre
Mediação: Anabela Mota Ribeiro é escritora, jornalista e programadora cultural; pesquisa a obra de Machado de Assis
Margaret Atwood, autora de O Conto da Aia, já escreveu: “Ustopia é um mundo que criei combinando utopia e distopia – a sociedade perfeita imaginada e seu oposto – porque, a meu ver, cada uma contém uma versão latente da outra.” Como então diferenciar o distópico do utópico? Para responder a essa pergunta, nesta mesa Margaret Atwood conversa com Antonio Nobre, cientista que desenvolveu alguns dos principais estudos sobre as ameaças contra as florestas brasileiras e que, apesar dos dados assustadores, continua a lutar por uma “Matrix Utópica”. O que o melhor da imaginação literária pode aprender com os ensinamentos das plantas para manter a “latência distópica” sob controle?
Quinta, 02 de Dezembro
18h | Mesa 11: Botânicas migrantes
Djaimilia Pereira de Almeida e Elif Shafak
Mediação: Mirna Queiroz é jornalista, editora e curadora; fundou e é editora executiva da revista Pessoa
Em seu pequeno e denso romance A visão das plantas, um dos vencedores do prêmio Oceanos de 2020, Djaimilia Pereira de Almeida reescreve o final da vida do luso Capitão Celestino. O personagem foi um cruel pirata e traficante negreiro que, ao se aposentar, retornou a sua cidade natal, vivendo sozinho na casa da família e cuidando do jardim antes abandonado. É na tensão entre a crueldade de Celestino e o modo delicado como trata as plantas que a história propõe uma revisão das ações humanas ambivalentes. Já a turca Elif Shafak, em The Island of Missing Trees [A ilha das árvores desaparecidas], conta a história de amor proibido entre Kostas e Defne Kazantzakis, o primeiro cristão grego, a segunda muçulmana turca, e os conflitos que surgem daí. Um dos capítulos é narrado na perspectiva de uma figueira, expondo a violência colonial e os preconceitos veiculados e criticados no texto. Tanto no romance da angolana Almeida quanto no da turco-britânica Shafak estão em jogo os conflitos e os traumas que o colonialismo acarreta, tendo como uma de suas motivações narrativas o elemento vegetal: no primeiro caso um jardim português, no segundo uma figueira de origem cipriota.
20h | Mesa 12: Políticas vegetais
Kim Stanley Robinson e Eliane Brum
Mediação: Lucia Sá é professora de estudos brasileiros na Manchester University, na Inglaterra
Kim Stanley Robinson foi convidado pela organização da COP26 para acompanhar, com passe totalmente livre, as negociações que tentaram estabelecer um novo acordo internacional para evitar a catástrofe climática. Pode parecer tarefa estranha para um consagrado escritor de ficção científica, mas sua última obra literária, The ministry for the future (o “livro da década” segundo o músico/pensador Brian Eno), já é referência incontornável para muitas pessoas que decidem política ambiental no mundo todo. Na Flip, Kim Stanley Robinson conversa com Eliane Brum, que acaba de publicar Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo, seu relato sobre a batalha contra a catástrofe climática em curso na Amazônia. Como as políticas vegetais do presente podem nos guiar para a invenção de outros futuros possíveis?
Sexta, 03 de dezembro
18h | Mesa 13:
Em aberto
20h | Mesa 14: Vegetalize
Han Kang e Adriana Lisboa
Mediação: Guilherme Henrique é jornalista com reportagens e artigos publicados nos principais veículos do Brasil
Duas escritoras com olhar crítico e disseminador sobre o universo humano vão se encontrar nesta mesa: a brasileira Adriana Lisboa, com experiência de vida no Extremo Oriente, e a sul-coreana Han Kang. Mais conhecida como ficcionista, em sua última publicação intitulada O vivo, Lisboa retorna à poesia, praticada noutros livros, para abordar os animais, as coisas humanas e não humanas, e em particular as plantas. Entre outras preciosidades, salta literalmente aos olhos o belo poema “a flor e seu protesto”, que desmonta os simbolismos tradicionais em torno da temática floral e conclui indagando: “o que será uma flor/ sem significante/ nem significado?”. Já em A vegetariana, Han Kang narra a fábula terrível de uma mulher que, após ter sonhos com muito sangue, decide não mais comer carne, tornando-se então o objeto de violência por parte de seus familiares. A recusa em aceitar sua decisão acaba por levá-la a um processo de radicalização vital, expondo o contraste entre a delicadeza de uma existência vegetal e o canibalismo próprio a uma cultura falocêntrica e carnívora. Trata-se, pois, de dois enfoques femininos, tentando desconstruir um mundo ainda excessivamente masculino, apesar da revolução sexual em curso há pelo menos cinco décadas.
Sábado, 04 de dezembro
16h | Mesa 15: Transflorestar – Ato I
Iara Rennó
Nesta Flip, a cantora, compositora e poeta Iara Rennó estreia o filme Transflorestar – Ato I. Obra híbrida com direção, roteiro e atuação de Iara Rennó, montagem e videoarte de Mary Gathis, direção de arte de Alma Negrot e participações de Curumin e Ed Trombone, Transflorestar revê o mundo através da floresta enquanto promove diálogos entre música, poesia, artes visuais e corpo, propondo a subversão do antro-falo-eurocentrismo e da supremacia do pensamento cartesiano sobre o sentir. Nas parcerias com Thalma de Freitas, Ava Rocha, Tetê Espíndola e Alzira E., mas também na inspiração buscada nos relatos de Davi Kopenawa e nas falas de Ailton Krenak, em fragmentos de textos de Eduardo Viveiros de Castro e nos ecos de Makunaimã em Macunaíma, o filme incorpora a possibilidade de um “(M)otherworld”, legado da filósofa burquinabesa Sobonfu Somé, e a perspectiva de Lélia Gonzalez para a “Améfrica”. Tudo num universo mítico e onírico habitado por Xapiri e Orisá, no qual as raízes da Yãkõana e do Iroko encontram-se sob o Oceano Atlântico.
18h | Mesa 16: Em busca do jardim
Alice Walker e Conceição Evaristo
Mediação: Djamila Ribeiro é filósofa, escritora e uma das principais vozes em defesa das mulheres e negros
Neste encontro histórico mediado pela filósofa Djamila Ribeiro, a escritora estadunidense Alice Walker dialoga com a mineira Conceição Evaristo. Uma das mais importantes vozes da literatura brasileira contemporânea, a autora de Ponciá Vicêncio se recolheu durante a pandemia num sítio em que acompanha o lento desenvolvimento das plantas. Grande admiradora de Walker, Conceição encontra agora a autora de A cor púrpura para uma conversa sobre literatura, política e jardins. O último livro de Alice Walker publicado no Brasil é Em busca dos jardins de nossas mães: Prosa mulherista.
20h | Mesa 17: Ouvir o verde
Alejandro Zambra e Ana Martins Marques
Mediação: Rita Palmeira é crítica literária, editora e curadora literária
Dois livros iniciais do consagrado escritor chileno Alejandro Zambra têm as plantas como catalisadoras ficcionais: Bonsai e A vida privada das árvores. Em ambos, os vegetais se associam metaforicamente a histórias de relacionamentos afetivos, que contam também sobre a ditadura de Pinochet. Em seu último livro, Poeta chileno, Zambra volta aos temas que marcaram sua escrita, incluindo-se aí a metáfora vegetal e um mapa de todas as babosas plantadas no bairro Maipú, em Santiago. Ana Martins Marques tem se notabilizado como autora de alguns dos mais belos poemas envolvendo plantas no cenário da poesia brasileira contemporânea. Um de seus títulos refere explicitamente essa temática: O livro dos jardins, dividido em duas partes. Na parte I, os textos descrevem e refletem poeticamente sobre cacto, dente-de-leão, rosa e girassol, entre outros assuntos. Já a parte II oferece “jardins textuais” a mulheres poetas, como a brasileira Orides Fontela, a norte-americana Sylvia Plath e a polonesa Wislawa Szymborska. Na literatura de Zambra e na de Marques, ouvir o verde se torna uma urgência politicamente existencial.
Domingo, 05 de dezembro
16h | MESA 18: Metamorfoses
Emanuele Coccia e Adriana Calcanhotto
Mediação: Cecilia Cavalieri é artista visual e pesquisadora; sua pesquisa recente propõe exercícios inter/multiespecíficos de especulação e de fabulação cosmopoética
O italiano Emanuele Coccia é um dos filósofos mais importantes no que se costuma chamar de “virada vegetal”: o momento no século XXI em que as plantas assumem um protagonismo inédito na história cultural do planeta. Em dois de seus livros traduzidos no Brasil, A vida das plantas e Metamorfoses, ele aborda questões relativas à inteligência e à sensibilidade vegetal, tentando mostrar a relevância absoluta desses seres não humanos para a sobrevivência de todas as outras espécies. Em Metamorfoses, propõe que toda a vida no planeta acontece como um processo metamórfico: não só as espécies, mas também os reinos vegetais e animais se transformam uns nos outros, ao longo de uma história que remonta ao surgimento dos primeiros viventes na Terra. Adriana Calcanhotto é uma das compositoras e cantoras mais admiradas na cena cultural brasileira. Um de seus mais recentes trabalhos tem como título vegetal A Mulher do Pau-Brasil, que resultou também em concerto-tese, resultado de sua residência artística na Universidade de Coimbra. Nesta mesa, ela falará também de sua relação com Paraty e seu projeto de criar um estúdio de produção musical em plena Nhe’éry, além de comentar a intensa relação com as plantas que acompanhou seu casamento com a cineasta Suzana de Moraes. Ressaltando-se que a escrita filosófica de Coccia é dotada também de muita poesia, esse diálogo tem tudo para ser de alta voltagem poético-floral.
18h | MESA 19 – Cartografias para adiar o fim do mundo
Ailton Krenak e Muniz Sodré
Mediação: Vagner Amaro é editor e fundador da Malê, especializada em literatura brasileira; é também escritor e bibliotecário
Para encerrar esta edição da Flip, o encontro inédito entre Muniz Sodré e Ailton Krenak, que ao mesmo tempo produzem e comentam os mapas que vão nos orientar no enfrentamento dos cada vez maiores desafios brasileiros e mundiais. De um lado o autor de Pensar nagô e A sociedade incivil, do outro o autor de Ideias para adiar o fim do mundo e O amanhã não está à venda. No Brasil temos também o encontro entre os xamanismos indígenas e as religiões afro-brasileiras, com as plantas como principais mediadoras para suas respectivas tecnologias do êxtase, da cura, do conhecimento sobre o mundo. Sem folhas não há festa, não há vida, não há nada. Como fortalecer o aprendizado com o reino vegetal? Como construir uma rede de florestas e escolas? Acompanhando a conversa, trazendo também respostas, na videografia, haverá a apresentação dos mapas criados nas oficinas de cartografia dos povos indígenas Maxakali e Guarani. Novos mapas para novos mundos.