Paulina Chiziane conta que veio do chão, e que aprendeu a escrever debaixo de uma árvore. Em 2021, aos 66 anos, a autora moçambicana recebeu o Prêmio Camões, a maior distinção da literatura lusófona. Apesar de ser uma escritora há muito tempo reconhecida e celebrada em diversos países, Paulina, em entrevista recente, diz ter se surpreendido por não achar que o seu português correspondia às exigências de um prêmio como esse. Não que isso importe, e não que isso importasse para a própria escritora. Nascida na província de Gaza, ao sul do país, Paulina é falante de chope e ronga, o português lhe foi ensinado na escola de uma missão católica. Mais tarde, estudou linguística na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, mas não concluiu o curso. A literatura que produz é, em diversos sentidos, uma literatura de fronteira, que, segundo ela própria, tem como fio condutor o tema da emancipação da mulher moçambicana. O seu livro de estreia, “Balada de amor ao vento”, de 1990, é o primeiro romance escrito por uma mulher moçambicana a ser publicado no país. Na obra, ela explora o tema da poligamia em uma sociedade machista, e, por consequência, todas as tensões culturais, políticas e religiosas em um país que quer se modernizar.
No Brasil, estão editadas “O Canto Alegre da Perdiz” (Dublinense) e “Niketche: Uma História de Poligamia” (2004, Companhia das Letras), obra pela qual recebeu, em 2003, o Prêmio José Craveirinha de Literatura, dado pela Associação Escritores Moçambicanos (AEMO). São dela também “Ventos do Apocalipse” (1993), “O Sétimo Juramento” (2000), “As Andorinhas” (2009), “Na mão de Deus e Por Quem Vibram os Tambores do Além” (2013), “O Canto dos Escravos” (2017), entre outros.