Os textos de Muniz Sodré são rigorosos exercícios meditativos em busca de saídas, e se os caminhos não se apresentam, é como se com a força do pensamento ele conseguisse abrir brechas no painel de normalidade do mundo. Em seu livro mais recente, A sociedade incivil, ele abre uma clareira na realidade para poder pensar sobre as mutações contemporâneas do velho civilismo liberal. Em um mundo tomado pelo capitalismo financeiro, pelos algoritmos e pela proliferação de mídias, Sodré é preciso ao apontar para consequências sociais, políticas e culturais do fenômeno do “iliberalismo”, e sua consequente capacidade de deteriorar as democracias e as instituições em que se instala. A proposta de regeneração do autor retoma Pensar Nagô, de 2017, texto no qual apresenta-se a ideia de uma filosofia “que começa na cozinha de casa”, e não em vitrines de metafísica, um modo de pensar afro, aquele em que a existência presente, não anestesiada, é capaz de produzir processos filosóficos próprios. Para Muniz Sodré, o termo afro designa as características de métodos delineados tanto pelas diferenças quanto pelas semelhanças aos modos de pensamento europeus. Algo transversal à obra do sociólogo é a compreensão de que o pensamento precisa ser descolonizado, e que para isso é necessária uma defesa das formas “essenciais e não violentas de vida”.
Muniz Sodré é sociólogo, professor e ensaísta, membro Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil (SECNEB) e pesquisador das línguas iorubá (nagô) e do crioulo de Cabo Verde, é também Obá de Xangô do terreiro baiano de Axé Opô Afonjá. Sua obra é vasta, passando pelo campo dos estudos comunicacionais à escrita de livros de ficção.