A história começa por uma viagem que de fato aconteceu. Em 1817, os pesquisadores alemães Von Spix e Von Martius vieram ao Brasil integrando a maior expedição científica da fauna e flora no país até os dias de hoje. Na volta à Europa, oito crianças indígenas capturadas faziam parte dos objetos de pesquisa recolhidos pelos naturalistas.
Em o Som do Rugido da Onça, o quinto livro da escritora pernambucana Micheliny Verunschk, a engrenagem ficcional assume as rédeas da narrativa logo no desembarque em Munique, quando o romance passa a acompanhar o que teria sido a vida das suas crianças que sobreviveram à viagem. A vida que teriam tido, não a que tiveram, pois um ano após serem roubados de seus povos, Iñe-e e Juri estavam mortos. Ao abandonar a historiografia tradicional e a própria consciência daqueles que viveram, Micheliny abre caminhos para investigar o horror vivido por seus protagonistas.
Micheliny Verunschk é ficcionista e historiadora, Mestre em Literatura e Crítica Literária, e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo. Além de Som do Rugido da Onda, a autora escreveu também Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida (Patuá, 2014), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura, além de ter sido, em duas ocasiões, finalista do Prêmio Rio de Literatura, e do antigo Prêmio Portugal Telecom, hoje Prêmio Oceanos.
Foto: Renato Parada