As tentativas de Merlin Sheldrake de descobrir o mundo dos seres invisíveis remonta à sua infância. Os estudos sobre a ciência das plantas, microbiologia, ecologia e filosofia da ciência apontavam para um tipo de organismos incomuns: os fungos. A curiosidade e um profundo interesse por esse reino particular passaram a moldar a vida do jovem biólogo. Em A trama da vida (Fósforo, 2021), ele conta como, ainda estudante universitário, fazia bebidas alcoólicas a partir de receitas medievais, e como passou a revirar florestas em busca de espécimes que depois seriam minuciosamente investigadas em laboratório. O livro, recém publicado no Brasil, não é apenas um conjunto de relatos do autor sobre, por exemplo, suas experiências psicodélicas com a psilocibina encontrada nos chamados cogumelos mágicos, mas é também uma potente reflexão do fazer científico. O recado que emerge da leitura é inequívoco: são os fungos os maiores responsáveis por conceber a vida na Terra, e a descoberta recente desses processos torna a mensagem urgente. Nesse sentido, a obra faz um movimento duplo: ao mesmo tempo que atesta o papel fundamental dos cogumelos neste emaranhado de relações que sustenta a vida no planeta, o livro provoca os leitores a imaginar como extrair dos fungos ideias a respeito do que pode ser o comportamento humano diante da crise climática. Do olhar dedicado de Merlin Sheldrake em direção ao mundo dos micélios, há muito a se aprender.