Margaret Atwood ocupa um lugar de destaque na ficção contemporânea. Desde de 2016, com a adaptação televisiva de O conto da Aia, o caráter especulativo da sua ficção foi transfigurado em uma espécie de premonição das crises do século XXI. Se o romance de 1985 oferece uma chave de compreensão para a misoginia das culturas humanas, a trilogia MaddAddão ilumina a urgência da crise climática. Na série de romances, a autora oferece uma narrativa dedicada a explorar, ao limite da dor, questões éticas e morais sobre o futuro da humanidade após o colapso do clima. Entre imaginar sociedades ideais, ou o seu avesso, a escritora opta pelo hibridismo, pela ambiguidade, por aquilo que ela pensa ser a natureza humana sustentável, a Ustopia.
Em recente artigo publicado no jornal inglês The Guardian, ela escreve: “Grandes esperanças têm sido frustradas ao longo da história. As melhores intenções certamente pavimentaram estradas para o inferno. Isso significa que não deveríamos mais tentar corrigir os nossos erros, reverter nossa rota em direção ao desastre, limpar todo nosso lixo e arrefecer as misérias de tantas vidas? Certamente não: se não fizermos uma manutenção e algumas melhoras no que de fato temos, as coisas irão ladeira abaixo muito rapidamente. Claro que devemos tentar tornar as coisas melhores, ao menos aquelas que estão ao nosso alcance. Mas provavelmente não devemos tentar tornar tudo perfeito, especialmente a nós mesmos, pois é esse o caminho das valas comuns.”