Quando um livro se torna um fenômeno literário, as atenções se voltam para a história que vive naquelas páginas. Tenta-se imaginar as razões, quaisquer que sejam, para que esse livro ganhe vida aos olhos de uma multidão de leitores. São vários os motivos que explicam o sucesso de público de Torto Arado, sobretudo a habilidade narrativa de seu autor, o baiano Itamar Vieira Junior. Mas a força da história das irmãs Bibiana e Belonísia surge também de questões que extrapolam aspectos formais. A vida narrada de irmãs unidas por um acidente, onde uma precisa falar pela outra, serve também de janela para um país onde a herança da escravidão é mais evidente que no Brasil urbano. Um lugar e uma história que deveriam compelir a nós todos a deixar de repetir o passado colonial.
Torto Arado faz com que se descubra também o cenário do romance, como se vive na Chapada Diamantina, onde “existe uma vida muito pulsante no campo, uma vida que está em risco” nas palavras do autor. Lá se faz roça e as pessoas vivem em quintais, tentando descobrir os segredos das ervas que as rodeiam. Independentemente de qual seja a razão, Torto Arado é um romance que pode ser lido de diversas formas, que ajuda a entender o Brasil de hoje não apenas pela história que conta, mas também pela história de sua recepção, dos seus leitores. É por isso que, após participar da 18ª Flip, Itamar volta à Festa para discutir o que Torto Arado nos contar sobre seu o cenário natural da história.
Itamar Vieira Júnior nasceu e vive em Salvador. Escritor, é também geógrafo e doutor em Estudos Étnicos e Africanos, com pesquisa sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 2018 foi vencedor do Prêmio Leya, de Portugal, com o romance Torto Arado, lançado em 2019, no Brasil, pela editora Todavia. O romance também foi vencedor dos prêmios Oceanos e Jabuti, e está sendo traduzido para uma dezena de idiomas. São dele ainda as coletâneas de contos Dias (Cumurê Publicações, 2012); A Oração do Carrasco (Mondrongo, 2017), finalista do Prêmio Jabuti; e Doramar ou a Odisseia (Todavia, 2021).