Banzeiro significa agitação quando se fala do movimento das águas. É como o povo do Xingu chama a força do rio que deixa o barco à deriva, ou o nome que se dá às ondas causadas pela pororoca, que batem com força quando chegam à praia. Banzeiro é um sujeito cambaleante, ou um adjetivo para caracterizar a tristeza em alguém.
O relato da jornalista e escritora Eliane Brum trazido em Banzeiro òkòtó: Uma viagem à Amazônia Centro do Mundo se propõe a administrar os múltiplos sentidos dessa palavra. A obra, a oitava de Eliane, organiza denúncias a respeito da devastação crescente da floresta, e discute as diversas consequências desse processo não apenas na vida de ribeirinhos, quilombolas e indígenas, mas das espécies que ainda hoje habitam o planeta Terra. No título do livro está contida uma ideia urgente para Eliane: para evitarmos a sexta extinção em massa, é preciso reconfigurar o que é periferia e o que é centro.
À beira do colapso, o coração do mundo se revela. Afinal de contas, a vida pulsa não por conta do desenvolvimento econômico, ela é muito anterior a isso. Se quisermos continuar a existir, não há outro caminho a não ser aprendermos com as forças que geraram o mundo do qual somos habitantes.